Anna Carolina Lementy
O ator Derrick Burts se emociona durante entrevista coletiva a veículos americanos
Há dois meses, o ator Derrick Burts, de 24 anos, descobriu que é soropositivo. Primeiro, ele ficou em silêncio. Esta semana, resolveu expor seu drama. Burts afirmou, durante uma entrevista coletiva, que foi infectado pelo vírus durante a gravação dos filmes pornográficos de que participou. Ele teve relações sexuais com mulheres e homens. E agora quer que o uso de preservativo durante as cenas se torne obrigatório.
Na indústria dos filmes para adultos, a camisinha é mal vista. No Brasil, ela era utilizada até 2004. Hoje, apenas uma produtora exige que os atores se previnam durante as gravações. O que as empresas do ramo fazem então? Submetem seus atores a exames periódicos, como se isso fosse capaz de prevenir o contágio. “Esquecem”, porém, da janela imunológica, que é o intervalo de tempo – de 30 a 60 dias – entre a infecção pelo vírus e a produção de anticorpos pelo organismo. São esses anticorpos que indicarão se houve contágio. Se um teste de HIV é feito durante o período da janela imunológica, há a possibilidade de apresentar um falso resultado negativo.
“É um arranjo matemático. Colocamos os atores de um grupo seleto para contracenar, pois sabemos que eles não têm o vírus”, afirma Edson Strafite, produtor de filmes para adultos. “Entretanto, os riscos existem. Todos deveriam se proteger”. Mas não se protegem. Segundo Strafite, a camisinha não é vetada no set de filmagem por questões estéticas, mas sim porque a falta de proteção excita mais os espectadores. “Um filme com preservativo vende menos”, diz.
Na indústria norte-americana, a camisinha é exigida apenas em produções de filmes com temática homossexual. Burts acredita que tenha sido infectado durante uma filmagem desse tipo, na Flórida. Ele disse que é comum o uso de camisinha durante a penetração, mas não durante o sexo oral. Ele, que também contraiu clamídia, gonorréia e herpes, lamenta o fato de não ter sido informado sobre esses riscos todos pela clínica que responde pelas condições físicas dos atores que participam de filmes pornográficos, a Adult Industry Medical Healthcare Foundation. Segundo ele, a entidade lhe prometeu ajuda para conseguir um médico e fazer o tratamento indicado, mas isso não aconteceu.
A única providência tomada pela clínica foi notificar os atores e atrizes com quem Burts contracenou. Eles também foram colocados em uma espécie de quarentena até a realização dos próximos exames. Burts afirma que a clínica fez um rastreamento e sabe qual ator lhe transmitiu o vírus. É um “conhecido soropositivo”, cujo nome não pode ser divulgado em respeito ao sigilo estabelecido entre médico e paciente. A irresponsabilidade permeia a história toda. É tamanha que a história de Burts pode ser a de muitos outros profissionais do ramo.
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