quarta-feira, 19 de maio de 2010
METRÔ, TRUCO, CHATROULETTE - MASPOXAVIDA
A vitória do humor nerd
O canal do YouTube Mas Poxa Vida é uma crônica urbana jovem, com situações inusitadas. A fama rendeu a seu criador um convite para atuar na TV
Bruno Ferrari
Ricardo Corrêa
SUCESSO
PC Siqueira grava um episódio do Mas Poxa Vida em seu quarto. A fama rendeu um convite para atuar na TV
“Oi, como vai você?” Para PC Siqueira, dono do canal Mas Poxa Vida, no YouTube, está tudo ótimo. É com essa pergunta que ele saúda os espectadores a cada vídeo publicado em seu vlog (blogs alimentados por conteúdo em vídeo). O jovem profissional de quadrinhos, de 24 anos, chama a atenção pela aparência peculiar: cabelos desarrumados, camisa xadrez, óculos de aro grosso e estrabismo aparente. A infraestrutura de gravação resume-se a uma câmera postada diante do espelho de seu quarto. Não há roteiro. PC senta-se em uma poltrona, liga a câmera e sai falando o que vem à cabeça. Fatos e situações que ele esbarra em suas caminhadas pela cidade de São Paulo, por exemplo. Ou em seus passeios pela internet.
O Mas Poxa Vida é uma crônica urbana jovem, com passagens que vão de situações inusitadas no metrô a suas opiniões radicais sobre o consumo de álcool. Pertence a uma nova categoria de entretenimento criada nos Estados Unidos pelos aficionados da internet – e a eles dirigida. O velho blog confessional, no qual o sujeito contava seu dia a dia desinteressante, ganhou formato de vídeo. É um programa de humor que nem sempre faz rir, mas cativa sua audiência. “Estou pensando em fazer um vídeo que reúna religião, futebol e política”, diz PC. “Eu não ligo para esses temas, mas eles repercutem.” O sucesso está ligado à capacidade de falar o que muita gente pensa, mas não tem coragem de assumir em público. Ao fazer comentários sarcásticos aos mendigos e opor-se à legalização da maconha, parece conservador. Mas trata do homossexualismo com naturalidade, como faria um progressista. Ao final, é inclassificável. E isso ajuda a explicar seu sucesso. PC afirma que a maioria de seus espectadores é jovem, na faixa dos 20 anos. Desde fevereiro, quando estreou o Mas Poxa Vida, foram mais de 5,5 milhões de visitas a seu endereço no YouTube. Ele já tem 40 mil seguidores no Twitter. As abordagens na rua tornaram-se comuns, fato que ele ainda não assimilou. “Fico aflito, acham que acabei de sair do BBB”, diz. “Não sou exemplo a ser seguido. Sou vesgo, tosco e não transo.”
O PC Siqueira nerd e tímido não é um personagem criado para fazer sucesso no YouTube. Em seu apartamento, na região central de São Paulo, pode-se ver o cenário real da maioria de seus 33 vídeos. É um quarto simples, despojado e organizado, onde o único item que chama a atenção é um espelho de camarim.
PC largou a escola no primeiro ano do ensino fundamental. Segundo ele, era difícil a convivência com os colegas. “Eu não me dava bem com as outras crianças”, afirma ele. Seus pais desistiram de insistir numa formação tradicional e permitiram que ele estudasse em casa.
A fama recente parece não perturbá-lo. Diz que não trocaria sua atividade pela possibilidade de se tornar artista de televisão. “Gravo vídeos como hobby”, afirma. “Recebi uma proposta boa para uma campanha publicitária recentemente. Não aceitei.” Mas isso não significa voto de pobreza. Com os anúncios do Mas Poxa Vida, PC fatura cerca de US$ 1.000 por mês. Até o final do ano, ele lançará no Brasil sua primeira revista em quadrinhos. “Nada disso aconteceria se eu não estivesse sendo visto”, diz. “Eu morria de vergonha de olhar para uma câmera. Hoje perdi o medo de ser julgado.”
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