Antes da fama, Silvio Santos, o "Homem do Baú", vendia capas de plástico para títulos de eleitor na av. Rio Branco, no Rio. Virou garoto-propaganda das Lojas Clipper, estrela nos anos 1960 da TV Paulista, passou a animador na TV Globo, tornou-se sócio da Record, até ter sua própria rede de TV, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). A trajetória de sucesso dele pode ser conferida em um dos capítulos do livro "O Marechal da Vitória" (A Girafa), dos jornalistas Tom Cardoso e Roberto Rockmann.
Já é quase meio século de sucesso. Silvio Santos comandou e exibiu em sua rede de de TV programas que marcaram diversas gerações de brasileiros. Nas noites de domingo, era quase sagrado. Depois da missa, a família reunida na sala de frente para a televisão assistia ao "Show de Calouros".

Almanaque cita programas lançadaos por Silvio Santos
O apresentador, que usava o microfone dourado preso ao colarinho, e seus jurados "recebiam calouros, que iam desde menininhas dançando jazz e marmanjos imitando Ney Matogrosso a bizarrices como comer um tijolo a dentadas entre um e outro gole de guaraná". Como consta em diversas passagens de "Mofolândia" (Panda Books), de Antonio Carlos Cabreza.
Silvio Santos e seu time de jurados chegavam ao som da famosa musiquinha: "E o Silvio Santos lá, lálálálálál". Depois tocava: "Agora é hora! De alegria! Vamos sorrir e cantar". E o apresentador dava o pontapé inicial: "É com você Lombardiiiiii!".
Luiz Lombardi Netto, o dono da famosa voz do SBT, sonhava em ser narrador de jogo de futebol. Mas acabou conhecendo Silvio Santos no fim da década de 1960 e tornou-se seu locutor oficial. Esteve ao lado do patrão nos programas "Tentação', "Em Nome do Amor", "Qual é a música?" e "Todos Contra Um". Seu rosto, por contrato, não podia aparecer na telinha. Tudo para assegurar o mistério e o ibope, é claro.
Quando os calouros ganhavam algum dinheiro como prêmio, podia-se ouvir o barulhinho de caixa registradora. E quando alguém tirava a nota máxima, cumprimentava jurado por jurado, com lágrimas nos olhos e ao som de uma música triunfante.

Roberto Nemanis/SBT
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O Show de Calouros foi inspirado em "The Gong Show", um programa norte-americano comandado por Chuck Harris. Os calouros menos afortunados eram interrompidos por uma "gongada" no meio da música.
Na versão de Silvio Santos, o crítico musical José Fernandes raramente dava nota 10. Quando isso acontecia, era tocada a música "Aleluia", de Haendel.
Outro calouro marcante foi Pedro de Lara. Ele trabalhava com Silvio Santos desde a década de 1960, quando apresentavam um programa na Rádio Nacional. Os dois interpretavam os sonhos dos ouvintes.
Petrúcio Melo foi jurado de nada menos que quatro programas de calouros: ele dava seus pitacos nas atrações de Flávio Cavalcanti, Chacrinha, Bolinha e Silvio Santos. Petrúcio ficou conhecido por inventar palavras estranhas para classificar os calouros: "ispiciá" (regular), "ispicibê" (bom) e "ispicizê" (ótimo).
Para homenagear o "Homem do Baú", Petrúcio inventou mais uma: "pelepesquê", ou "pescador de sucessos".
Nas manhãs de segunda a sexta, quem animou o público infantil, na TV de Silvio Santos, foi o palhaço Bozo. "Alô, criançada! O Bozo chegou!". O programa do Bozo, com seu macacão azul, nariz vermelho, cara branca e peruca laranja, foi apresentado pelo SBT durante dez anos, de 1981 a 1991. Mas pouca gente sabe que ele nasceu cantor, e não apresentador de atrações infantis.
O personagem foi criado nos Estados Unidos em 1946. Primeiro, veio o disco "Bozo no Circo". Fez tanto sucesso com a criançada americana que ficou 200 semanas no topo dos mais vendidos. Em 1949, o palhaço ganhou um rosto. O cantor Pinto Colvig, que gravou o álbum, vestiu a peruca e o macacão e apareceu em um programa ao vivo do canal KTTV, de Los Angeles (EUA).
O SBT lançou a versão nacional do programa do Bozo em 1981. A produção era toda feita no Brasil. Apenas os desenhos animados eram "importados" dos Estados Unidos.
Em 1985, o sucesso de audiência entre a meninada era a novela "Carrossel". A gordinha Laura ("Isso é tão romântico"), o simplório Cirilo e a esnobe Maria Joaquina faziam parte da turma de alunos da professora Helena, no Colégio Mundial. O dia-a-dia deles e seus coleguinhas eram retratados em Carrossel. Seus 385 capítulos fizeram enorme sucesso, rendendo até uma visita da atriz Gabriela Rivero (a professorinha) ao país.
Nos anos 1970, o programa era "Cinderela" e a vencedora era sempre a menininha mais pobre. Aquela roda com os sapatos das garotas era pura armação, dizia-se.
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