domingo, 8 de novembro de 2009

JOVENS OBESOS E A CIRROSE HEPÁTICA

Jovens obesos sofrem mal que atinge bêbados
Pesquisa da Unifesp com 300 adolescentes apontou que metade desenvolveu esteatose

MARCELA SPINOSA, marcela.spinosa@grupoestado.com.br

Adolescentes acima do peso estão sendo atingidos por um mal silencioso, que era restrito a alcoólatras e aos que tiveram hepatite: a esteatose hepática não alcoólica, ou excesso de gordura no fígado. Se não for tratada, a doença pode evoluir para cirrose.

Metade dos 300 jovens entre 15 e 19 anos atendidos pelo Grupo de Estudos da Obesidade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) tinha esteatose hepática não alcoólica. “É preocupante, porque a doença danifica profundamente as funções do órgão e, a cada ano, percebemos que a prevalência aumenta entre os jovens”, afirma a nutricionista Aline de Piano, autora do estudo.

A esteatose, que atinge até 5% da população brasileira e 90% dos obesos mórbidos, é causada pelo acúmulo de gordura no abdome, predisposição genética e ingestão elevada de carboidratos e alimentos com gordura saturada.

Estudo de 2007 sobre prevenção de obesidade entre crianças e adolescentes do governo do México, publicado pela Organização Pan-Americana da Saúde, diz que a obesidade é a primeira causa de doenças no fígado em jovens.

Para tratar a doença, é preciso fazer dieta e atividade física. Mas a perda de peso deve ser gradual, no máximo 1 quilo por semana. “Senão, o fígado não dará conta de sintetizar a gordura e ela se acumulará ainda mais no órgão”, diz a nutricionista. Nos casos mais graves, o paciente tem de tomar medicamentos. A pesquisa da Unifesp mostrou que 8% dos que passaram pelo tratamento conseguiram se curar.

Sem sinais

Apesar disso, ela é ainda mais preocupante por ser assintomática. Os sinais aparecem quando o fígado incha por causa da gordura. Sua coloração também muda: de marrom, passa para um tom amarelado. “Em grau mais avançado, causa desconforto na região abdominal e mal-estar”, diz Aline. O diagnóstico é feito por ultrassonografia ou ressonância magnética.

Diretamente relacionada à obesidade, a esteatose hepática não alcoólica causa ainda outro problema: aumenta a fome porque estimula a produção de uma substância chamada neuropeptídeo Y. Dessa forma, emagrecer é mais difícil ainda.

A esteatose se desenvolve em três níveis: no grau 1, afeta 30% do fígado, quando ainda tem gordura natural em sua estrutura. No grau 2, o excesso de gordura atinge 60% do órgão, vital para várias funções, como produção de colesterol. No grau 3, já comprometeu 90% dele.

“A partir daí, evolui para cirrose”, diz a coordenadora do grupo, Ana Dâmaso. Se não tratada, a cirrose pode matar.

Do total de jovens atendidos pelo ambulatório, 40% tinham o grau 1 da esteatose, 8% o nível 2 e 2% o estágio 3. O estudante João Gabriel Calixto, de 18 anos, tem o grau 2. “Não achei que era tão grave”, afirma.

Magros não estão imunes. Os que têm vida sedentária e comem alimentos com gordura saturada em excesso também estão sujeitos a desenvolver a esteatose hepática não alcoólica, já que a gordura se acumula no organismo.

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