MARINA LANG
da Folha Online
MAURÍCIO KANNO
colaboração para a Folha Online
RICARDO FELTRIN
Secretário de Redação da Folha Online
A empresa Zynga, responsável pelo game virtual "FarmVille", sucesso no Brasil e no mundo, é suspeita de ludibriar jogadores internautas e reter parte nas doações feitas por eles a campanhas humanitárias, como a das vítimas do terremoto no Haiti, em janeiro. Por meio de uma porta-voz, a empresa nega a suspeita e diz que a contribuição de 100% do que é doado é uma "exceção".
No ano passado, a empresa teria arrecadado US$ 2,7 milhões em doações --mas doou apenas a metade deste valor. Procurada pela Folha Online, a a porta-voz disse que a fatia de doação retirada é uma "prática comum" da companhia. Ela disse ainda que informou aos usuários do game acerca da divisão dos valores doados.
Para atrair doação ao Haiti, FarmVille montou "fundo" virtual

Logomarca do fundo de arrecadação de donativos para o Haiti no FarmVille; empresa pegou parte das doações
A empresa também é suspeita de usar de "truques" para induzir os jogadores a fazer doações quando, na verdade, estão apenas comprando dinheiro virtual para ser usado em FarmVille.
Por e-mail, a empresa informou que doou 50% de valores arrecadados antes do terremoto para as instituições haitianas Fonkoze (de microcrédito), e Fatem, voltada à tecnologia da informação. A companhia, entretanto, se recusou a mencionar o valor arrecadado, porque a Zynga é "uma empresa privada e esta é uma informação ligada à competitividade'.
Entretanto, a Folha Online apurou que uma das organizações citadas, a Fatem, recebeu somente US$ 192 mil da Zynga. Até o fechamento da edição, ninguém da Fonkoze comentou o assunto.
Revelada pela revista "Superinteressante" deste mês, a retenção de doações em 2009 ocorreu em meio a 25 processos relativos a plágios de jogos. A empresa se recusa a dizer quanto foi arrecadado até hoje em doações de jogadores a campanhas humanitárias. Segundo a porta-voz, esta informação é "estratégica".
A Zynga declara que contribuiu, nos primeiros cinco dias de campanha para o Haiti, logo após o terremoto em janeiro, com 100% do que era doado, e que esse montante chegou a US$ 1,5 milhão. Só que a campanha arrecadatória durou pelo menos 10 dias.
Doação ou truque
Em janeiro último, dias após o terremoto do Haiti, surgiu um ícone em FarmVille que, ao ser clicado, convidava os jogadores a doar US$ 10, US$ 20, US$ 30 ou US$ 40 para as vítimas. Após efetuar o pagamento com cartão de crédito, o jogador descobria que não estava contribuindo diretamente com o Haiti, e sim comprando o dinheiro virtual do jogo.
Se quisesse contribuir com as vítimas, aí sim teria de iniciar plantações e colheitas de milho branco virtual (a popular canjica), e somente o que fosse plantado e colhido é que seria enviado ao Haiti. Mas, quem comprou US$ 40, por exemplo, jamais conseguiria gastar o total, porque a campanha tinha duração preestabelecida, e não haveria tempo para contribuir com os FV$ 240 adquiridos. A sobra de FV$, após dez dias de colheita, só poderia ser usada novamente no jogo --comprando bens, animais e ou decorações virtuais para as fazendinhas. A porta-voz da empresa nega esta informação, mas a Folha Online a confirmou, efetuando a doação (compra) máxima.
O game "Farmville" roda com o programa flash e tem quase 80 milhões de usuários no mundo --por volta de 20% do total de usuários do Facebook.
No Brasil, o aplicativo é o mais popular entre seus usuários: 1,125 milhão de pessoas estiveram no jogo em janeiro (por volta de 15% dos usuários brasileiros do site), de acordo com dados do Ibope.
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