Gazeta Press

Problema à vista na seleção brasileira. A pubalgia sofrida pelo craque Kaká após a derrota do último dia 28 de novembro para o Barcelona, que tirou o meia de atividade pelo período de um mês, tornou-se mais grave do que o esperado pelos médicos do Real Madrid. Nesta quinta-feira, revelou-se que o jogador necessitará realizar um tratamento diário, por toda sua vida, para evitar uma lesão grave na região, que poderia acarretar na sua dispensa da Copa do Mundo da África do Sul.
De acordo com o médico Ulises Sánchez-Flor, consultado pelo jornal espanhol Marca, Kaká fará um tratamento fisioterápico para conter a pubalgia. Todos os dias, o brasileiro treinará meia hora antes e meia hora depois dos trabalhos com Manuel Pellegrini para fortalecer abdômen, glúteos e costas. Este restabelecimento muscular, segundo os médicos, é necessário até o final da carreira do pentacampeão mundial, evitando alguma enfermidade mais grave.
O tratamento mais recomendado para este caso seria o cirúrgico, contudo, o camisa 10 da seleção brasileira preferiu algo mais 'conservador'. Dessa forma, o trabalho progressivo de fortalecimento apareceu como a única alternativa para o brasileiro, que voltará a atuar em 'alto nível', como garantiu Sánchez-Flor ao periódico espanhol nesta quinta-feira.
A notícia surpreendeu a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). O médico da seleção brasileira, José Luís Runco, afirmou não ter sido procurado pelo Real Madrid para discutir o tratamento do jogador e acredita que o problema é 'leve'.
"É preciso ter tranquilidade de saber de onde essa notícia saiu. Qualquer coisa que esteja fora do normal eles nos acionam e isso não aconteceu. É fundamental que ele faça esse trabalho de manutenção para trabalhar normalmente. Isso é uma patologia que acontece em boa parte dos atletas e que você tem condições de dar qualidade para o jogador atuar", disse Runco em entrevista ao canal de televisão SporTV, que preferiu não opinar a escolha do clube.
"Temos que estar mais embasados para dar uma opinião. Se o Kaká tivesse possibilidade de ficar fora da Copa ele já teria nos alertado e isso não aconteceu", concluiu.
O que é pubalgia, doença que ocorre quase só em jogadores de futebol
por Joaquim Grava*
A pubalgia afastou recentemente dos jogos o atacante Kleber, do Cruzeiro, de Belo Horizonte, e o zagueiro brasileiro Alex, do Chelsea, da Inglaterra. Os dois foram operados por mim e ficarão cerca de 40 dias em recuperação. Chama-se de pubalgia uma inflamação no osso púbico (púbis), localizado na parte inferior da estrutura óssea que forma a pelve, ou bacia. Há nessa região diversos grupos de músculos que ligam o tronco aos membros inferiores e, na hora de executar os movimentos, atuam em direções opostas. Os músculos do abdome fazem força para cima e os da virilha, para baixo. Se um dos dois lados fica mais forte, ocorre um desequilíbrio muscular, forçando demais o outro e inflamando o púbis. O sintoma é dor no baixo ventre e na virilha. De nício ela surge só após esforços físicos, mas, depois, até ao tossir.
Os jogadores de futebol são as principais vítimas da pubalgia. O exercício de chutar a longas distâncias, direcionando o chute para a direita ou a esquerda, pode desequilibrar a atuação dos músculos citados. Já atendi a outros atletas com pubalgia. Mas minha experiência de mais de 20 anos no tratamento dessa doença mostrou que é um mal quase exclusivo dos homens que jogam futebol. Nunca atendi a uma mulher com ele. A anatomia feminina, que muda o formato ósseo da bacia em razão do canal do parto, deixa a mulher mais protegida. No caso dela, um desconforto na região tem mais chance de ser hérnia ou endometriose, moléstia que pode até levar à infertilidade.
Dor na região do púbis também pode ser sinal de outras doenças nos homens, como hérnia inguinal, infecção uriária e inflamação na próstata. Por isso, o ortopedista, que deve ser consultado ao primeiro sinal de incômodo na região, precisa descartar esses males durante o diagnóstico. Depois, se ainda suspeitar que seja pubalgia, pode comprová-la com a Manobra de Grava, técnica que criei em 1997 para identificar a inflamação. O paciente fica deitado, com a barriga para cima e apenas uma das pernas flexionada na lateral, como se fizesse o número 4. Nesta posição, o médico aplica com as mãos uma força no quadril do paciente e pede que flexione o tronco. Se sentir dor ou não conseguir realizar o movimento, está comprovada a pubalgia.
O grau de dificuldade indica também a gravidade da inflamação e se o tratamento será clínico ou cirúrgico. No primeiro caso, prescreve antiinflamatório, repouso por pelo menos 30 dias e fisioterapia, para fortalecer e reequilibrar os músculos da pelve. Quanto à cirurgia, a técnica usada hoje foi criada por mim. Faz-se um pequeno corte no baixo ventre, acima dos pelos pubianos, com o objetivo é liberar os músculos tensionados e aliviar a tração no púbis.
Os casos cirúrgicos são menos frequentes que os clínicos. Nos últimos 20 anos, operei 108 pacientes. Não há estatística oficial, mas os números no meu consultório mostram uma diminuição dos quadros de pubalgia a partir do ano 2000. Desde então, as equipes técnicas dos clubes têm investido na prevenção por meio de treinamentos para fortalecer os grupos musculares relacionados ao púbis. Mesmo assim, talvez por diferenças genéticas ainda não descobertas, a pubalgia continua driblando alguns jogadores.

Joaquim Grava
* Joaquim Grava (58), médico ortopedista com especialização em Medicina Esportiva, trabalhou na Seleção Brasileira de Futebol entre 1998 e 2001 e atualmente é consultor médico do Sport Club Corinthians Paulista. Defendeu em sua tese de doutoramento, de 2002, o tratamento cirúrgico da pubalgia para alguns casos e criou a Manobra de Grava, técnica que identifica os candidatos à cirurgia. Email: jgrava@uol.com.br
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