sábado, 8 de agosto de 2009

SARNEY - O VÍRUS QUE ATACA A POLÍTICA NACIONAL


O SARNEY QUE ELES VIRAM ANTES


"Pressionado pelos filhos, ele passou a administrar a política como se fosse uma propriedade de sua família, a casa dos Sarney"
Edson Vidigal, ministro do STJ e ex-assessor jurídico de Sarney

A eleição de José Sarney para o governo do Maranhão em 1965 foi recebida como um sopro de renovação na política brasileira. Aos 36 anos, Sarney pertencia à ala bossa-nova da UDN e cometera a proeza de derrotar a oligarquia. Meio século depois, Sarney passou de esperança a vilão nacional e se vê acusado das mesmas práticas e vícios que condenou.

Mudaram os tempos ou mudou Sarney? Para quem pertenceu ao grupo mais próximo do último coronel da política, e hoje engorda o bloco de seus inimigos, a resposta vem na ponta da língua: Sarney mudou para atender aos interesses da família. Com frequência cada vez maior, cita-se, no Maranhão, uma profecia do ex-senador Alexandre Costa, já falecido: "Sarney, tu vai te acabar na hora em que seus filhos crescerem e tiverem mandando em você." Os ex-amigos de Sarney não se surpreendem com nada do que está acontecendo.

O ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça, Edson Vidigal, que acompanhou o ex-presidente desde a década de 60, diz que "os filhos de Sarney escantearam os antigos parceiros do pai e montaram uma rede de poder e influência nefasta nas prefeituras e demais instituições estaduais e até federais." Ou seja, "usam a mesma moeda do senador Vitorino Freire", o coronel da política maranhense que foi derrotado por Sarney na década de 60.

"Pressionado pelos filhos, ele passou a administrar a política como se fosse A uma propriedade de sua família, a casa dos Sarney", explica Vidigal. Com a entrada dos filhos na política, aos poucos, os amigos de longa data tornaram-se inimigos ferozes. Esse foi o caso do engenheiro José Reinaldo Tavares, que galgou vários cargos públicos pelas mãos de Sarney, desde secretário de Estado até ministro dos Transportes em 1986, quando o amigo chegou à Presidência da República. Para José Reinaldo, que governou o Maranhão de 2002 a 2006, os filhos Roseana e Fernando têm responsabilidade na derrocada da imagem de Sarney.

Todos os problemas, diz ele, começaram quando Sarney apostou em Roseana como sua sucessora política: "Ela não tem talento, não tem competência para isso." Sua opinião sobre Fernando também é ácida. "O Fernando, o homem dos negócios da família, acabou se metendo em confusão com essa coisa de confundir o público com o privado."

José Reinaldo acredita que Sarney, aos 79 anos, voltou à presidência do Senado para ajudar Fernando, sob investigação da Polícia Federal, e a filha Roseana, que lutava na Justiça para reverter o resultado da eleição para o governo do Maranhão. "O Sarney já disse que as circunstâncias o obrigavam a ficar mais tempo na política exatamente para defender a filharada", diz o ex-governador.


"O Sarney já disse que as circunstâncias o obrigavam a ficar mais tempo na política exatamente para defender a filharada"
José Reinaldo Tavares, ex-governador do Maranhão

Fiel escudeiro de Sarney por mais de três décadas, José Reinaldo explica que a família rompeu com ele em razão de um acordo que tinha fechado com o ex-presidente, mas que Roseana não respeitou. "Logo que assumi o governo, Sarney veio conversar e me disse: 'Quero ter uma grande alegria na vida, ter dois filhos no governo do Maranhão.'

E me pediu que apoiasse o Sarney Filho", narra. Roseana, porém, não aceitou o acordo. "Numa reunião com o pai, Roseana gritou e disse que quem tinha voto era ela. Depois passou a me hostilizar nos meios de comunicação da família." José Reinaldo conta que teve três reuniões com Sarney para reclamar das agressões, mas nenhuma providência foi tomada. Na terceira reunião, Reinaldo advertiu: "Vou tomar o meu caminho".

José Reinaldo explica que sua relação com a família Sarney piorou de vez quando, em 2005, ele cortou a publicidade do sistema de comunicações comandado por Fernando. "Hoje o Sarney tem muita raiva de mim e me chama de tudo que não presta", diz o ex-governador. No caso de Edson Vidigal, que foi assessor jurídico de Sarney na Presidência da República, o divisor de águas também foi a eleição de 2006. Até ali a amizade dos dois continuava forte. Tanto assim que, em 2004, Vidigal empregou a neta de Sarney, Maria Beatriz, como assessora internacional do STJ. Os atritos começaram quando Vidigal decidiu deixar a presidência do STJ para disputar o governo do Maranhão pelo PSB.

De início, Sarney não levou a sério. E chegou a brincar quando as intenções de voto em Vidigal passaram de 1% para 3%. "Puxa, Vidigal, você cresceu 300%", ironizou. Mas Vidigal conquistou 15% dos votos, contribuindo para o segundo turno entre Roseana e Jackson Lago. Opositor ferrenho dos Sarney, Lago ganhou a eleição com o apoio de Vidigal, que entrou para o rol de desafetos da família. "Desde a derrota de Roseana, eu e minha mulher, Eurídice, que foi secretária de Segurança do Jackson, passamos a ser atacados pelos veículos de comunicação dos Sarney", afirma. Mesmo em atos públicos, Sarney faz de tudo para evitar o cumprimento do ex-amigo.

Ao defender sua prole com unhas e dentes, Sarney ficou isolado na política do Maranhão. Hoje, suas amizades se reduzem às figuras do vice-governador João Alberto e do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Muito pouco para quem, um dia, foi apontado como uma das grandes esperanças da política brasileira, principalmente no Nordeste. Na opinião de Vidigal, Sarney paga um preço alto por não ter seguido a própria intuição.

"Certa vez, no Palácio do Planalto, cercado de amigos, Sarney disse que não repetiria o erro de Napoleão Bonaparte. E explicou que Bonaparte não foi derrotado em Waterloo, mas sim pela família à qual premiou com cargos importantes por toda a Europa", lembra Vidigal. Meses depois, Roseana e seu marido, Jorge Murad, ocupavam postos no Palácio. Sarney, portanto, não deu ouvidos ao conselho do próprio Sarney.


Parecia que a crise no Senado caminhava para um desfecho e que ninguém seria punido por atos secretos que misturam público e privado e nepotismos de toda ordem. Mas na quinta-feira 6, novamente os interesses partidários e pessoais se impuseram. Numa retaliação às investidas do PSDB contra Sarney, Renan leu em plenário a representação do PMDB contra o líder tucano Arthur Virgílio por quebra de decoro. Há inclusive documento mostrando que despesas com a saúde da mãe de Virgílio foram pagas pelo Senado e recursos superiores a R$ 600 mil foram depositados na conta do senador.

Virgílio subiu à tribuna para relembrar as acusações feitas nos últimos anos contra o peemedebista. Foi o suficiente para o bate-boca de moleques voltar a ter espaço na Câmara Alta. O tucano Tasso Jereissati (CE) pediu para Sarney retirar das galerias uma pessoa que estaria ofendendo os líderes do PSDB. Renan reagiu.

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