segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

VOCE USA TODA A SUA BANDA LARGA?



Pedro Doria
Seu provedor de banda larga talvez não deixe claro isso, mas aqueles 4Mbps que ele vende não são, assim, exatamente igual a 4Mbps. Às vezes, é menos. Outro assunto sobre o qual não conversam muito é o fato de que, conforme a internet vai ficando mais carregada de filmes e outras mídias pesadas, gerenciar banda larga fica mais difícil. As empresas têm por hábito resolver a dificuldade com uma solução simples: reduzem a velocidade de seus clientes.

Quem escova bits, é especialista no assunto e conhece o protocolo de rede como ninguém sabe como identificar as trapaças dos Speedys e Vírtuas da vida. Para o resto de nós há Switzerland.

Bem, talvez não para todos nós. Switzerland é um pequeno programa distribuído pela Electronic Frontier Foundation, uma ONG de San Francisco, na Califórnia, que defende as liberdades no mundo digital. Ele é bem complexo, precisa ser compilado para operar e funciona com linha de comando. Não é mais necessário ser um especialista em protocolo de rede, mas é preciso entender um quê de programação.

(Ele se encontra, disponível para download, no endereço www.eff.org/testyourisp/)
A boa notícia é que o programinha pode ser difícil mas foi publicado no regime de código aberto. Ou seja, qualquer programador pode pegá-lo e fazer adaptações para Windows, Linux, Mac, com interface gráfica amigável. Não demora muito para que versões que qualquer um saiba utilizar estejam à disposição por aí.

Switzerland encara inimigos de vários tipos. Um dos mais badalados são os softwares produzidos pela empresa canadense Sandvine. Especialista em sistemas de monitoramento de tráfego em redes digitais, muitos ativistas desconfiam que são utilizados por uma das maiores operadoras de TV a cabo e banda larga dos EUA, a Comcast.

É um sistema extremamente complexo que faz algo muito simples. Na internet, toda informação circula na condição de pequenos pacotes digitais. Redes P2P voltadas à troca de arquivos, utilizadas por piratas mas não apenas, recolhem pacotes que vêm de vários pontos diferentes da rede ao mesmo tempo. Se o gerenciador da Sandvine percebe que um computador está abrindo várias conexões simultaneamente, ele fica atento para detectar traços de uso do programa BitTorrent, por exemplo. Caso se confirme, insere pacotes digitais falsos. O resultado é que a conexão cai.

De casa, o usuário nem percebe. Só acha que caiu e pronto, embora tenha sido o provedor que interferiu.
Switzerland percebe, também, que redes de proteção como o poderoso firewall censor da China estão impedindo acesso a determinados sites. Acusa quando a velocidade de conexão está sendo propositalmente reduzida ou se é mero resultado de congestionamento natural. Sua grande qualidade é obrigar os provedores à transparência e, daí, fazer surgir um debate.

Uma rede de banda larga não é um cabo direto que sai da casa do indivíduo e o liga direto à internet. Ela é uma mesma conexão compartilhada por vizinhos de um prédio, um quarteirão ou, em alguns casos, vários quarteirões. Se quase ninguém está usando, há banda de sobra e aqueles 4Mbps contratados chegam bem próximos da realidade. Mas quando a mocinha do prédio à frente que usa o mesmo provedor está carregando um vídeo após o outro e o adolescente do 301 baixa os discos completos de sua banda favorita, o pobre coitado que quer ler o portal Estadão sofre um pouco.

A internet é compartilhada mas seu provedor de acesso não lhe informa disso no contrato.

Talvez seja até justo diminuir um pouco a velocidade de quem usa muito em prol da comunidade. Mas, na hora de vender, tem que informar que 4Mbps não é sempre igual a 4Mbps.

*pedro.doria@grupoestado.com.br

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