quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

ESCOMBROS DO TERREMOTO VIRAM MOEDA NO HAITI

ESPECIAL SOBRE O HAITI
Por Natuza Nery


PORTO PRÍNCIPE (Reuters) - As vendas de caixões aumentaram muito no Haiti, mas Yvon Louchart passou a cobrar mais barato desde o desastre que matou alguns de seus amigos e familiares, no último 12 de janeiro.

Como o dinheiro, gourde ou dólar, sumiu de circulação imediatamente após o tremor que atingiu mais de 3 milhões de pessoas, o dono da marcenaria FYB Enterprise alterou rapidamente a natureza de seu trabalho. Trocou a fabricação e reforma de móveis --foco de suas encomendas mensais-- para se dedicar exclusivamente à confecção de ataúdes.

Antes do sismo, vendia um caixão a 2 mil dólares haitianos, o equivalente a 400 dólares norte-americanos. Depois do desastre, reduziu o preço à metade. A depender das dificuldades do cliente, chega a cobrar 200 dólares locais (50 dólares norte-americanos). Essa é sua maneira de ajudar e, ao mesmo tempo, refazer a vida financeira.

"Como as pessoas não têm dinheiro, vendo por qualquer preço", afirmou o comerciante.

Nos últimos dias, ficou comum ver homens carregando urnas funerárias sobre a cabeça. O terremoto elevou os já estratosféricos índices de desemprego. Na capital e nas cidades do interior mais próximas a Porto Príncipe, cada um se vira como pode.

Os escombros agora são produtos comerciáveis. A madeira e as vigas de aço das casas destruídas transformaram-se em matéria-prima da catástrofe. Pessoas roubam material dos escombros para vendê-lo ao ferro-velho. Mais tarde, serão revendidos à população para que reconstrua seus imóveis.

Um grupo de homens que arrancava as vigas de um prédio desmoronado contou que recebe o equivalente a 15 reais, divido entre seis ou sete colegas, para vender aos ferros-velhos na região metropolitana de Porto Príncipe.

Depois de um dia inteiro separando o concreto das vigas com ferramentas caseiras, colocam o material em caçambas e andam sob um sol escaldante por mais de 20 quilômetros. A sucata dá lucro.

Nas feiras livres, há um aglomerado de comida e lixo a céu aberto, desabrigados compram esteios arrancados de árvores para elevar suas tendas no meio da rua. Fazem isso usando lençol e toda qualidade de plástico que sobrou o terremoto.

PRODUTOS INFLACIONADOS

A escassa gasolina passou a ser vendida no mercado paralelo a preços 200 por cento mais caros que antes do terremoto. Donos de caminhonetes que transportam a população --as famosas tap-taps-- deixaram de conduzir passageiros por centavos de dólar para faturar com a venda de galões de combustível.

Nos postos, o preço quase não aumentou, mas conseguir abastecer é um desafio para quem não tem dinheiro sobrando. Muitos recorrem à propina para furar a fila. Com isso, o litro, que sairia em tempos normais por 40 centavos de real, chega a custar 2reais.

Como boa parte dos haitianos arranha bem o inglês e o espanhol, o mercado da catástrofe inclui também o serviço de guia. Jornalistas do mundo inteiro que vieram cobrir o tremor de magnitude 7 se utilizaram desses serviços em suas coberturas. Pagam em média 10 dólares norte-americanos por ele. Se o guia tiver carro, o valor sobe para 50 dólares, às vezes o triplo disso. De moto, é barato, mas também mais perigoso.

Enquanto poucos têm sorte, a maioria depende da ajuda humanitária para sobreviver.

Ajuda às vítimas do Haiti

Instituições recebem doações em dinheiro pela dificuldade de enviar roupas, alimentos e outros materiais ao país atingido pelo terremoto. Se você deseja enviar doações para as vítimas da tragédia, veja como colaborar.

Comitê Internacional da Cruz Vermelha
Banco HSBC
Agência 1276
Conta Corrente 14526-84
CNPJ: 04359688/0001-51 Embaixada da República do Haiti
Banco do Brasil
Agência 1606-3
Conta Corrente 91000-7
CNPJ: 04170237/0001-71

Care Internacional Brasil
Banco: ABN Amro Real
Agência: 0373
Conta corrente: 5756365-0
CNPJ: 04180646/0001-59

ONG Viva Rio
Banco: Banco do Brasil
Agência: 1769-8
Conta Corrente: 5113-6

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