sábado, 19 de dezembro de 2009

O TITÃ DOS IMÓVEIS APOSTA NO BRASIL



Sam Zell é americano, bilionário e procura bons negócios no mercado imobiliário brasileiro. Sua investida em seis empresas não deixa dúvidas: ele veio para ficar

Milton Gamez
ÍSTOÉ DINHEIRO

"Não existe ambiente melhor do que o do Brasil no mundo inteiro"

Sam Zell, presidente do Equity Group Investments e controlador do Equity International

Não se assuste se você encontrar o bilionário americano Sam Zell pilotando uma grande motocicleta em São Paulo, Ouro Preto ou Brasília. As duas coisas que o lendário titã do mercado imobiliário dos Estados Unidos mais gosta de fazer atualmente são sentir o vento no rosto e investir no Brasil. Líder de um grupo de motoqueiros autointitulado Zell's Angels (qualquer semelhança com os famosos Hell's Angels não é mera coincidência), que viaja o mundo em busca de aventuras, o empresário acaba de aumentar sua aposta no mercado brasileiro.

Na semana passada, Zell pagou US$ 53 milhões (R$ 90 milhões) por uma fatia de 8,5% da Brazilian Finance & Real Estate (BFRE), empresa de crédito imobiliário, gestão de fundos e securitização do Grupo Ourinvest. O investimento total pode chegar US$ 125 milhões (20,7%) e foi feito pela Equity International, sua companhia de participações em empresas de real estate em mercados emergentes. Aos 68 anos, Zell continua acelerando.

O negócio é significativo sob vários spectos. Primeiro, a transação eleva para US$ 500 milhões o total enviado pelo grupo de Zell ao País. O número foi confirmado à DINHEIRO pelo presidente da Equity International,Garry Garrabrant. É a maior aposta da companhia no exterior. "Mais de um terço dos nossos investimentos em países emergentes está no Brasil", disse ele. Garrabrant fundou a Equity International em sociedade com o bilionário em 1999, em Chicago, para tirar proveito das ineficiências dos mercados menos evoluídos (leia entrevista à página 50).

Os Investimentos da equity international no país já somam US$ 500 milhões


Os fundos administrados pela empresa compraram participações avaliadas em US$ 1,5 bilhão em companhias do setor imobiliário do México, da China, do Egito, da Arábia Saudita, do Vietnã e do Brasil. Da construção de residências, escritórios e instalações industriais, passando pela armazenagem, tudo que envolva tijolos ou cimento no Brasil interessa a Zell, um dos empresários mais argutos do século XX. Aqui, ele investiu pesado nas construtoras Gafisa e Tenda, na companhia de shopping centers BR Malls, na empresa de terceirização imobiliária Bracor e na AGV Logística. Detalhe: agora, pela primeira vez no País, ele investe no lado financeiro do negócio.

A BFRE faz empréstimos habitacionais sob a marca BM Sua Casa, com lojas de varejo em ruas e shoppings de 17 Estados. Também financia construtores, investe em imóveis corporativos para locação, cria e administra fundos imobiliários. Sua carteira de financiamentos para a casa própria e a construção de edifícios passa de R$ 506 milhões. Esses empréstimos servem de lastro para a emissão de títulos, que são vendidos para grandes investidores de longo prazo. Os certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) emitidos pela companhia somam R$ 3,3 bilhões. É um modelo de negócios amplo e que tem tudo para decolar nos próximos anos, aposta Zell. O crescimento do PIB acima dos 5% a partir de 2010, os juros mais baixos e os prazos cada vez mais longos fundamentam sua estratégia local. O País o fascina tanto a ponto de ele prever que, em 30 anos, o Brasil será uma potência econômica maior que a China. "Se olharmos os fatos, acho que não existe um ambiente melhor do que o do Brasil no mundo todo", afirmou Zell em palestra na tradicional Conferência Global do Milken Institute, em Los Angeles. O evento foi organizado em abril pelo ex-megaespeculador de junk bonds (bônus de lixo) Michael Milken, outro ícone controverso do capitalismo americano. Zell estava falando sério. Ninguém investe meio bilhão de dólares num país estrangeiro se não for ousado, bem-informado, visionário ou, quem sabe, um pouco de tudo isso ao mesmo tempo. Se não tivesse essas características, o investidor não teria construído uma das maiores fortunas pessoais dos Estados Unidos - US$ 3,8 bilhões, segundo o último ranking dos bilionários da revista Forbes.


A BFRE, do grupo ourinvest e do empreendedor fábio nogueira, abriu a porta da bm sua casa para sam zell investir no crédito imobiliário
Filho de judeus poloneses que fugiram do nazismo, Zell começou a ganhar dinheiro alugando imóveis para colegas na Universidade de Michigan, onde estudou direito. Sua fortuna decolou com a compra e venda de propriedades de pessoas com problemas financeiros, na crise imobiliária anterior, nos anos 80. Como ele mesmo dizia, era uma espécie de grave dancer, alguém que fazia festa sobre a desgraça alheia. Zell chegou a ser dono de 225 mil imóveis nos Estados Unidos. Sua maior tacada foi a venda da Equity Office Properties ao grupo financeiro Blackstone, por US$ 39 bilhões. O ano? 2007, pouco antes do início da crise que derrubou os preços dos ativos imobiliários ao chão e jogou a economia americana de joelhos em 2008 e 2009, na maior recessão desde os anos 30. Como poucos conseguem fazer, Zell soube comprar na baixa e vender na alta, na maior transação desse tipo até então. Hoje, além de procurar investimentos fora do seu país, como casas populares no Egito e na China, ele também caça oportunidades pós-crise em seu antigo território. Em agosto, levantou US$ 625 milhões no mercado para investir em ativos imobiliários desvalorizados e títulos podres de dívida corporativa. Ele não se cansa nunca de tomar riscos e ganhar dinheiro em ambientes de crise. "O Sam Zell é uma águia, um predador. Ou as pessoas o amam, ou o odeiam. Não tem meio termo", disse à DINHEIRO um operador brasileiro de Wall Street.

"Ele tem dinheiro, muito poder e um batalhão de advogados para brigar com quem quiser." Embora seja agressivo, Zell é um investidor muito paciente. Enxerga longe o que quer, toma o tempo que for necessário para chegar lá e não acelera na curva. Sua viagem pelo Brasil começou no início deste século, há nove anos, quando veio pessoalmente prospectar novos negócios.


Construção da gafisa : primeiro negócio de Zell no Brasil. Participação atual, de 13,7% do capital da empresa, vale hoje R$ 500 milhões
Em busca de empresas do setor imobiliário estrangeiras e com grandes perspectivas de crescimento, fez vários contatos com empreendedores do setor e plantou as sementes do seu ambicioso plano de expansão internacional. Em São Paulo, num desses encontros, jantou no antigo Restaurante Fasano, na rua Haddock Lobo, com Moise Politi e Fábio Nogueira, do Ourinvest, que estavam investindo numa nova companhia de crédito imobiliário, a Brazilian Mortgages. Foi o início de um longo namoro, que culminou com a assinatura do contrato de participação na noite do domingo 13. As duas empresas cresceram com o tempo e voltaram a se encontrar, desta vez para subir ao altar. "Nesse setor, os bons negócios só saem se construirmos relações de longo prazo. É preciso ter perseverança", afirma Nogueira. O investimento da Equity International foi feito por meio de um aumento de capital, ou seja, o dinheiro entrou no caixa para aumentar o poder de fogo da BFRE. É o segundo sócio estrangeiro, depois da administradora de fundos TPG-Axon. Em setembro, o patrimônio líquido consolidado da companhia somava R$ 491 milhões e os ativos, R$ 1,4 bilhão.

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