sábado, 19 de dezembro de 2009

CAMARGO CORRÊA - UM GIGANTE SEM ROSTO - PÁG. 03

ISTOÉ DINHEIRO
Negócios

Camargo Corrêa um gigante sem rosto
Na maior crise de sua história, o grupo de R$ 16 bilhões ergue uma muralha para conter os estragos de uma ação da PF, que o acusa de pagar propinas de R$ 30 milhões

Por Leonardo Attuch e Tom Cardoso





Figueiredo conheceu de perto a empreiteira. Nos início dos anos 80, época da construção de Tucuruí, ele foi consultor direto do fundador do grupo, Sebastião Camargo. Um homem que estudou apenas até o terceiro ano primário, mas que se tornou uma lenda entre seus pares e tinha dois apelidos: “Bastião” e “China”. “Ele foi um gênio, que começou com uma carrocinha e construiu um império”, disse à DINHEIRO o economista e ex-ministro Delfim Netto, amigo íntimo do “Bastião”. “Ele não era só a cara da Camargo, era o o craque do setor de engenharia”, reforçou o empreiteiro Olacyr de Moraes, dono da Constran, que foi da mesma geração de Sebastião.

Nos governos militares, época das grandes hidrelétricas, duas empreiteiras despontaram. A mineira Mendes Júnior fez barragens para Furnas e a paulista Camargo construiu as usinas da Cesp. Em Itaipu, atuaram juntas.
Com a morte de Sebastião, em 1994, a empresa passou a enfrentar um vácuo de liderança, que persiste até hoje. O fundador da empresa deixou a viúva Dirce, que ainda é viva, e três filhas: Renata, Rosana e Regina. Nenhuma delas, no entanto, jamais teve interesse em atuar na empresa. E foi então que os três genros, Caco Pires, Luiz Nascimento e Fernando de Arruda Botelho, assumiram o comando. Mas a empresa, que sempre foi centralizadora, não estava acostumada a funcionar com três chefes. E as divergências foram tão grandes que restou uma única solução: a profissionalização. Em 1996, Alcides Tápias deixou o Bradesco e assumiu a Camargo com poderes absolutos. Com ele, a empresa deslanchou.

Entrou em áreas novas, como energia e cimento, e fez aquisições bilionárias, como a da companhia argentina Loma Negra, a maior fabricante de cimento do país vizinho. Tápias saiu em 1999, para ser ministro do Desenvolvimento, os genros se tornaram conselheiros e passaram a se dedicar a outras atividades. Caco Pires, que tem uma fazenda em Campinas com campo de golfe de 18 buracos, costuma votar nas reuniões do conselho em conjunto com Luiz Nascimento, que, dos três, é o mais conectado politicamente – na crise, ele procurou a ministra Dilma Rousseff e o presidente Lula.

Fernando de Arruda Botelho, por sua vez, tem duas paixões: a aviação e a caça. Ele promove um grande evento anual de jatos executivos na sua fazenda. Mesmo afastado do dia a dia da empresa, foi o único dos três genros citado num grampo da PF.
Hoje, quem está à frente do grupo é Victor Hallack, um mineiro de poucas palavras. Ele é avesso a entrevistas e não tem o mesmo carisma de Tápias. Até agora, Hallack não veio a público para se manifestar sobre a Castelo de Areia. “Esse silêncio talvez seja fruto da própria origem do negócio, pois nas empreiteiras sempre houve uma mistura pouco transparente entre negócios e política”, avalia o consultor Ruy Schneider. No entanto, nem todas as empreiteiras reagem da mesma forma a uma crise.

No fim da década de 80 e no início dos anos 90, a baiana Odebrecht esteve associada a vários escândalos: o dos anões do Orçamento, o do assassinato de um ex-governador do Acre, Edmundo Pinto, e o da “pasta rosa” – este muito parecido com o das 54 planilhas da Camargo Corrêa, justamente por envolver suspeitas de doações não declaradas. Depois disso, a Odebrecht passou a seguir uma política de mais transparência. “As crises serviram para mudar não só nossas políticas de comunicação como nossos valores e nossa própria cultura empresarial”, disse à DINHEIRO um alto executivo do grupo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário