sábado, 19 de dezembro de 2009

CAMARGO CORRÊA - UM GIGANTE SEM ROSTO - PÁG. 01


ISTOÉ DINHEIRO
Negócios

Camargo Corrêa um gigante sem rosto
Na maior crise de sua história, o grupo de R$ 16 bilhões ergue uma muralha para conter os estragos de uma ação da PF, que o acusa de pagar propinas de R$ 30 milhões

Por Leonardo Attuch e Tom Cardoso



Cena 1. Terça-feira, 15 de dezembro. Depois de se reunir com analistas de mercado no Hotel Renaissance, em São Paulo, o executivo Francisco Sciarotta, superintendente da CCDI, braço da Camargo Corrêa na área imobiliária, sai às pressas para não ser abordado por repórteres. Ao ser questionado sobre a Operação Castelo de Areia, que em março deste ano prendeu quatro executivos da Camargo Corrêa, ele responde de forma lacônica: “Desculpe, tenho ordens expressas para não falar sobre isso.” Cena 2. Quarta-feira, 16 de dezembro. Contratado por R$ 15 milhões para defender a empresa, o advogado Marcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça do governo Lula, avisa, via assessor: “Entrevistas sobre esse caso, só por e-mail.” Horas depois, ele retorna, de forma protocolar, dizendo que tudo sobre o caso “já foi respondido”. Vistas em conjunto, as duas cenas revelam que a Camargo, na maior crise de sua história, decidiu erguer um dique.

Uma muralha de contenção, cimentada pelo silêncio, mas que talvez não seja o bastante para protegê- la. Um dia depois, na quinta-feira 17, a procuradora Karen Louise Kahn finalizava 15 novas denúncias que serão apresentadas contra executivos da empresa, em vários Estados do País. “O que já se descobriu até agora é suficiente para que os acusados sejam punidos e para que se moralize de vez o processo de licitações no País”, disse à DINHEIRO a procuradora Karen Kahn. Nas suas contas, as propinas dirigidas pela Camargo a políticos e já identificadas somariam R$ 30 milhões. E os indícios de superfaturamento passam por obras como o Rodoanel e as eclusas da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará.

Com 60 anos de vida, a Camargo é hoje um império sem rosto – e sem voz. Mas é também um enigma. Um grupo que conseguiu se diversificar e tem receitas anuais de R$ 16 bilhões, atuando em áreas tão diversas, como engenharia, cimento, calçados, estradas, saneamento e siderurgia. E que também possui grandes marcas, como as sandálias Havaianas, que são produzidas pela Alpargatas. Nada disso, no entanto, vem à tona. Com a política de comunicação escolhida pela empresa e por sua máquina de consultores, a Camargo é vista apenas como a empreiteira. E desde março tem aparecido diariamente nas manchetes dos jornais associada a um escândalo de corrupção. À medida que o calendário eleitoral se aproxima, também tende a aumentar a exposição negativa da Camargo.

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