terça-feira, 29 de dezembro de 2009

HOMEM BOMBA QUE NEGOU FOGO É AGORA UM MALDITO



O que levou este homem a querer explodir um avião?

dom, 27/12/09por Paulo Nogueira |categoria Geral| tags Al Qaeda, Bin Laden, Nigéria, terrorismo, Umar Farouk Abdulmutallab, vôo 253

Ele caiu no canto de sereia de bin Laden. (Foto publicada no jornal Times of Nigeria)
O NIGERIANO Umar Farouk Abdulmutallab, de 23 anos, somente está vivo e inteiro porque é um fracassado. Formado em engenharia mecânica por uma prestigiada universidade londrina, filho de um homem rico, Abdulmutallab é um caso raro de homem bomba que negou fogo e não explodiu. E é por isso que poderão comemorar o Ano Novo os 289 passageiros mais a tripulação do Airbus 330 que saíra da Nigéria e passara pela Holanda com destino aos Estados Unidos no dia 25 de dezembro.

Abdulmutallab pertence à mais antiga colônia de negros de Londres. Os primeiros nigerianos chegaram à cidade há 200 anos, embarcados em navios feitos para o tráfico de escravos. Mais recentemente, tornou-se comum na elite da Nigéria, um país pobre do oeste africano em que coexistem 250 grupos étnicos e três grandes tribos, despachar seus filhos para estudar em Londres. Abdulmutallab é um deles: seu pai é um banqueiro. Sobre a presença marcante da Nigéria em Londres dão conta os 300 restaurantes nigerianos espalhados pela cidade, nos quais você encontra pratos típicos como o arroz Jollof e a sopa de carne. A cerveja Guiness feita na Nigéria é também um sucesso em Londres.

Como entender Abdulmutallab, que se soube depois ser ligado à Al-Qaeda, o grupo extremista comandado por Osama bin Laden? Seu próprio pai não conseguiu. Ele viu a transformação perigosa do filho, de menino cordial em homem extremista, e chegou a avisar autoridades americanas sobre o risco que ele representava, como se vê neste bom vídeo. Isso não foi suficiente, contudo, para que Abdulmutallab fosse colocado numa lista de pessoas impedidas de subir em um avião. Ele embarcou sem problemas na Nigéria, com explosivos de alta potência escondidos no corpo, e se não conseguiu seu objetivo foi apenas por inépcia. Os relatos das pessoas que conheceram Abdulmutallab na faculdade coincidem em que se tratava de um aluno exemplar, o sonho de todo professor: dedicado, interessado, inteligente.

Onde foi que ele se perdeu? Segundo o relato da família, terminado o curso em Londres, ele acabou indo para o Iêmen para, supostamente, prosseguir os estudos. O Iêmen, no Oriente Médio, é um reduto do pensamento radical islâmico. Bin Laden morou ali, onde nasceu seu pai, e entre as especulações sobre onde ele está escondido o Iêmen é sempre uma aposta forte. Provavelmente foi lá que Abdulmutallab foi recrutado. Em seu último contato com a família, ele dizia que desejava romper laços com o passado. Que ele tenha tentado destruir um avião em pleno é fácil de entender. As cenas espetaculares são transmitidas freneticamente, e não poderia haver melhor propaganda para os terroristas. Num livro lançado há pouco, Como Reagir ao Terrorismo, Richard English nota que imagens repletas de destruição e mortes criam uma “atmosfera de pânico”. “É esse estado de espírito que dá poder aos terroristas, por semear a impressão de que eles dispõem de forças militares acima da realidade e representam comunidades maiores do que aquilo que acontece de fato”, diz English. O impacto do terror, assim, é “mais psicológico que físico”. Provocar reações dos governos “mal avaliadas, extravagantes e contraprodutivas” é, segundo English, o maior risco que o terror oferece à humanidade. George W. Bush é um clássico neste capítulo, com sua “desastrosamente administrada guerra ao terror”.


O evangelho mortal de bin Laden
VOCÊ NÃO PODE compreender a mente do homem-bomba fracassado oriundo da Nigéria se não lançar os olhos, antes, para o evangelho de bin Laden. Num livro de memórias que acaba de ser lançado, um filho de bin Laden, Omar, traz informações preciosas sobre a personalidade do líder terrorista. Numa das passagens mais dramáticas, Omar conta que um dia seu pai reuniu os filhos em torno de si. Pediu-lhes que sentassem e ficou de pé. Disse primeiro, segundo o relato de Omar, que não poderia haver honra maior para um muçulmano do que dar a vida pelo Islam. Em seguida, avisou a todos que, numa mesquita ali perto de onde estavam, havia um livro no qual os candidatos ao martírio deveriam escrever seu nome. “Nenhum de nós moveu um músculo”, lembra Omar. Incomodado com a falta de reação dos filhos, ele repetiu o aviso. “Um irmão meu que ainda era pequeno para entender o que aquilo significava se levantou”, diz Omar. Ele afirma que interpelou então o pai, o que foi bastante para cair da graça paterna. Omar escreve que seu pai disse aos filhos que nenhum deles era mais amado por ele do que qualquer um dos jovens islâmicos. “Foi aí que eu soube qual era o meu lugar”, diz ele. Omar, hoje com dreadlocks no cabelo e uma pregação pacifista, afirma estar afastado do pai há um bom tempo.

Omar parece reprovar e ao mesmo tempo idolatrar o pai. Segundo ele, era o primeiro em tudo: montava como ninguém, tinha uma memória prodigiosa e divertia as pessoas ao competir com calculadoras em desafios matemáticos. O filho conta que bin Laden era apaixonado por carros. Aos nove anos ganhou um zero quilômetro do pai, um milionário da construção que bin Laden se orgulhava em dizer, conforme o relato de Omar, que ajudara a erguer na areia do deserto a Arábia Saudita. “Ele dizia que o presente do carro tinha sido seu momento mais feliz na primeira parte da vida”, afirma Omar. Bin Laden, diz o filho, jamais se afasta da bengala de madeira com a qual dava corretivo nos filhos e da Kalashinikov com que está pronto para matar, e mantém por perto um rádio no qual pega sua estação preferida, a BBC. Omar diz que o pai sempre recusou confortos como o ar condicionado, por entender que eles “corrompem” a pureza islâmica. Criou os filhos na aspereza por achar que a vida com dinheiro fácil não prepara os jovens para as adversidades, um método que guarda forte afinidade com a educação espartana.

Omar lembra o “olhar de encanto” de novos recrutas numa reunião em que o pai conclamou ao martírio. Os veteranos eram mais céticos e cínicos, mas os novatos pareciam fascinados pelo canto de sereia de Osama bin Laden. O nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab, em algum momento, ouviu esse canto, ou direta ou indiretamente, e sucumbiu a ele — mas ao não se desfazer em pedaços fracassou miseravelmente na tentativa de conquistar, segundo o evangelho mortal de bin Laden, a maior honra a que um muçulmano poderia aspirar.
ASSISTAM O VÍDEO: http://www.youtube.com/watch?v=RCEFpNAI6Uo

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