domingo, 22 de novembro de 2009

CIRURGIA DE OBESIDADE




Cirurgia de obesidade leva ex-gordinhas à separação
Mudança de parceiro é um dos efeitos colaterais da redução do estômago, cirurgia que ajudou 30 mil brasileiros a emagrecer só em 2008

NAIANA OSCAR, naiana.oscar@grupoestado.com.br

A história de Adriana começa no dia em que ela subiu na balança e se deu conta de que tinha conseguido sair da casa dos três dígitos. A professora de 37 anos que, quando menina, fugia das aulas de Educação Física com vergonha de se pesar, teve coragem de se encarar no espelho e achou que merecia um casamento melhor. Um ano depois de ter feito uma cirurgia para redução do estômago, Adriana experimentou um dos efeitos colaterais do emagrecimento radical: a separação.

Para especialistas que acompanham os obesos após o procedimento, a mudança de parceiro tem se tornado tão comum que começa a ser tema de estudo. “Essa é uma cirurgia que mexe com as relações humanas. A pessoa muda muito e se tiver um casamento mais ou menos ele vai acabar”, afirma a psicóloga e pesquisadora Eliane Ximenes, do Hospital das Clínicas de Pernambuco.

Este ano, Eliane fez um estudo de caso com 20 mulheres que deixaram de ser obesas depois da cirurgia bariátrica. Metade delas tinha se separado. O resultado da pesquisa, que dará origem a um levantamento mais detalhado, foi apresentado no Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica realizado este mês em São Paulo.

O estudo dá prioridade ao comportamento das mulheres, porque são elas, segundo a psicóloga, que passam pelas maiores transformações depois da redução do estômago. “A mulher não consegue conviver com essa infelicidade agora que está se sentindo bonita e independente. O homem costuma resolver isso mantendo um relacionamento paralelo.”

Adriana de Moraes fez a cirurgia em 2006. Em um ano passou dos 120 para os 80 quilos, peso considerado ideal para ela, que desde a infância conviveu com a obesidade. “Se eu consigo emagrecer, consigo tudo o que quiser nessa vida.” Deixou a escola onde deu aulas por mais de 15 anos e pediu o fim do casamento, que mantinha há tanto tempo quanto o emprego. “Mesmo sendo bem tratada, achava que merecia mais e queria um parceiro presente, que saísse comigo e me desse atenção.”

No ano passado, Adriana iniciou um novo relacionamento. Conheceu o atual marido pela internet.

Além da autoconfiança que chega com o emagrecimento, a mudança de rotina do casal pode contribuir para o fim do casamento. “Muda o menu, o tempo das refeições, os interesses. Se o companheiro não se adaptar, isso pode ser a gota d’água”, explica o psiquiatra Adriano Segal. Foi o que aconteceu com a nutricionista Cibele Regina Zalli, de 47 anos.

Com 60 quilos a menos, ela passou a trabalhar numa clínica de obesidade, tinha menos tempo para a casa, para o marido e queria aproveitar a vida. “Meu ritmo mudou.” Cibele engordou 45 quilos depois da primeira e única gravidez. Tentou a dieta da lua, do sol, do carboidrato, da sopa, e, como nada surtia efeito, se deu de presente a cirurgia em setembro de 2001. O divórcio veio três anos depois. “Comecei a aparecer e a me gostar. Passei a respeitar mais as minhas opiniões”, afirma. “Agora eu decido, eu faço, eu opino. Eu resolvo a minha vida.” Cibele está namorando e por enquanto não quer saber de casamento.

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