segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A TRISTEZA DA PÁTRIA AMADA


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A tristeza da Pátria amada

seg, 07/09/09por Paulo Moreira Leite |categoria Geral| tags Brasil, Idéias e lembranças, Nação
O dia da Pátria é, na verdade, um dia triste para a maioria dos brasileiros. Uma parte viaja, a outra aproveita o oxigênio a mais que se torna disponível nas grandes cidades. Mas ninguém celebra nada. Não temos confraternização nem fazemos brindes.

O principal acontencimento são desfiles militares, o que significa que, ao menos do ponto de vista da liturgia, a idéia de pátria ainda é uma comemoração do Estado, entregue ao pessoal treinado e pago para sua defesa. A presença do cidadão comum só não é dispensável porque toda festa precisa de figurantes.

O dia é triste por isso: 187 anos depois da Independência, o 7 de setembro não consegue ser uma festa nacional de verdade. Em parte a culpa é de Pedro I, que seria o herói prometido, e que não esteve a altura do papel — e reservou o melhor de sua biografia para Portugal, onde foi um valente adversário da tirania, mas isso depois que foi forçado a deixar o Rio por um populacho desiludido com suas promessas e uma corte irritada por seus desmandos.

O problema é que a data passa em branco para todos. Ninguém saúda a própria familia por causa do 7 de setembro, muito menos os amigos e colegas de trabalho. Não há festa no bairro, como acontece em Paris, quando a população festeja o 14 de julho nos quartéis do corpo de bombeiros. Ou em diversas cidades americanas, onde cada comunidade se reune e até desfila no 4 de julho.

Aqui vamos para a praia, no sentido literal e no figurado. O problema, como se sabe, não está no sentido literal. Mas no figurado, que expressa um pensamento: o bom é estar na praia, mergulhar, esfriar a cabeça.

Ninguem quer fingir que o 7 de setembro não aconteceu. É apenas muito difícil pensar na data, entender o que houve naquele dia e, é claro, o que aconteceu depois.

Para empregar uma imagem que começa a sair de moda, até: não temos uma narrativa convincente sobre o 7 de setembro. Nossos livros contam uma história confusa, descrevem fundamentos contraditórios, impossíveis, mal explicados.

Vamos encarar os fatos: sem um pouco de história, o brasileiro não existe. É uma realidade geográfica, diplomática, econômica e cultural. Mas ninguém se encontra, se abraça e fica feliz ao menos um dia no ano apenas porque é brasileiro. Ninguém pára a conversa numa roda de amigos, levanta o copo e diz: “Acho que merecemos parabéns por sermos brasileiros!”

Falta o sentimento de que somos iguais — até porque não somos mesmo, como sabemos todos, até os que não querem admitir.

Falta unidade, proteção, a certeza de que representamos uma herança que temos o dever de defender e transmitir. Reuna 50 pessoas da empresa onde você trabalha e pergunte: quantos tem orgulho do Brasil e de ser brasileiro? Quando se diriam apaixonados por seu país?

Nós, brasileiros, vivemos num universo feroz e desigual, segregado em condomínios, segurança privada e uma imensa desigualdade que não se explica de forma honesta — mas só com muita hipocrisia e mentira.

Falta a sensação de que o Estado — que deveria ser encarnação política da Pátria — existe fundamentalmente para fazer com que nossos direitos sejam respeitados.

Vamos admitir que em vários países o Estado também não defende os direitos do povo. Mas, ao menos, ele transmite essa ilusão — sem o que ninguém faria celebrações na data nacional.

Aqui, nem isso. Fica difícil festejar.

Seguimos os dois Brasis de que falavam pensadores estrangeiros.

Continuamos desterrados, estranhos em nossa própria terrra.

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