quarta-feira, 9 de setembro de 2009

ILHA DE PÁSCOA ( CHILE )






Ilha de Páscoa: glória e colapso das estátuas gigantes

seg, 24/08/09por Haroldo Castro |categoria Geral| tags Américas, Chile, Conservação, Natureza
Para meu primeiro nascer do sol na Ilha de Páscoa, escolho um lugar excepcional: em frente aos gigantes de pedra de Tongariki. O céu está na sua metamorfose inicial, mas posso distinguir as 15 estátuas. Os moais dão as costas ao oceano Pacífico e estão enfileirados lado a lado. O maior tem dez metros de altura. As nuvens começam a ganhar cores quentes. Os tons variam do rosa ao amarelo. As luzes no céu dão um ar ainda mais dramático ao ambiente feérico das gigantescas estátuas.

Sete dos 15 moais de Tongariki despertam com as primeiras luzes do sol que nasce no oceano Pacífico.

O sol ilumina os 15 moais de Tongariki apenas no final do dia. As enormes pedras dão as costas ao mar.

Enfileirados como em um pelotão, os 15 moais de Tongariki são os mais importantes da ilha de Páscoa. O maior deles pesa 86 toneladas.

Estáticos e temíveis, os moais contemplam o vulcão Rano Raraku. Foi dessa montanha que saiu a pedra necessária para construir cerca de 900 estátuas, das quais 400 estão espalhadas ao redor da ilha. Outras 500 pedras ainda permanecem em Rano Raraku, inclusive a maior de todas, incompleta, que mede 22 metros. Os moais foram erguidos entre os anos 900 e 1620.

Caminho em direção ao vulcão-pedreira e minha pergunta é a mesma de todos fazem quando conhecem Rapa Nui (nome nativo da ilha). Porque os primeiros habitantes, vindos de alguma ilha da Polinésia, resolveram construir essas estátuas gigantes? E porque essa mesma civilização mergulhou na decadência, até mesmo antes da chegada do primeiro europeu no domingo de Páscoa do ano 1722?

Centenas de moais permanecem na encosta do vulcão Rano Raraku, local que serviu de pedreira para a elaboração das estátuas gigantes.

À medida que subo a encosta e que o sol permite descobrir melhor a ilha, lembro do que havia lido durante as cinco horas de vôo desde Santiago, em um capítulo do livro “Colapso” do antropólogo Jared Diamond. Toda a ilha foi literalmente desmatada e hoje não existe nenhuma vegetação natural original. Apenas espécies de fora, invasoras. Todos os pássaros nativos também desapareceram. Rapa Nui pode ser considerado como o maior desastre ambiental do planeta.

Os responsáveis por terem dado uma forma humana a pedras pesando dezenas de toneladas – e ainda levantá-las na posição vertical – são os principais acusados desse colapso ecológico. No delírio de erguer cada vez mais e maiores moais, os antigos Rapa Nuis usaram um número crescente de recursos naturais e humanos. Quantas palmeiras foram sacrificadas para se transformarem em peças roliças de transporte? Quantos quilômetros de cordas foram meticulosamente elaborados com fibras de árvores, apenas para arrastar os moais? Quantos braços foram necessários para esculpir e transportar apenas uma estátua? Quantas calorias para alimentar essas centenas de bocas escravas e cansadas?

Para louvar seus antepassados, a classe dirigente de Rapa Nui não considerou um elemento básico: a sustentabilidade. E arruinou a existência de suas futuras gerações. Sem matéria prima, a cultura Rapa Nui entrou em declínio vertiginoso. Acabaram-se as árvores, as estátuas, os rituais de cremação, as canoas, a pesca e os alimentos. O canibalismo virou prática. Em 1872, sobreviviam apenas 111 nativos em estado deplorável e todos os moais haviam sido derrubados por clãs rivais.

Aqueles que construíram os grandiosos moais também foram os responsáveis pela degradação ambiental da Ilha de Páscoa.

Subo a encosta final de Rano Raraku com Raul Palomino, um chileno que vive a mais de 25 anos na ilha. A conversa começa com a grandiosidade dos moais, mas logo aborda a destruição ambiental da ilha. “Nosso maior problema é evitar que a erosão se expanda. As encostas das montanhas estão comprometidas”, afirma o funcionário da Corporação Nacional Florestal (CONAF), órgão chileno que rege a política florestal e as áreas protegidas do país. “Como não temos mais florestas, quando a chuva cai, a água que escorre para o mar é vermelha como sangue.”

Apesar da pequena área da ilha – apenas 164 km2 – o plano é reflorestar toda Rapa Nui. Cerca de 20 plantas nativas, incluindo uma palmeira gigante, foram extintas. “Existe apenas uma planta endêmica no nosso jardim botânico, a Sophora toromiro, um arbusto que chega a três metros de altura”, afirma Raul. “Diariamente converso com os toromiros e até canto para eles.” Vai ser necessária muita paciência para reflorestar a ilha com a única planta nativa, mas Raul é otimista. “Talvez leve 20 ou 30 anos para que o toromiro volte a florir em toda Rapa Nui. Por isso, temos que começar o mais rápido possível, não é?”

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