quinta-feira, 17 de setembro de 2009

BAIACÚ - CUIDADO!!!


Baiacú: bonitinho mas perigoso

São Sebastião

Abundante no Canal de São Sebastião, onde existem três espécies diferentes, o baiacú é bonitinho mas extremamente perigoso. Com uma característica interessante de inchar ao ser tocado, este peixinho também atrai por ter o corpo todo pintadinho.

Ele possui, no entanto, uma substância venenosa que pode matar uma pessoa em menos de meia hora. É conhecido entre os pesquisadores como o peixe mais venenoso do Oceano Atlântico.

Assim, pescadores domingueiros devem estar atentos. Primeiro para identificar qual é a espécie perigosa e passar bem longe dela; segundo, para saber os cuidados que precisam ser tomados na hora de preparar aquele que não apresenta risco.

Anote as diferenças

“Nós temos três espécies de baiacú que aparecem com mais freqüência aqui no Canal de São Sebastião”, conta o professor e pesquisador José Carlos de Freitas, ex-diretor do Cebimar – Centro de Biologia Marinha, da USP. “Dois deles são de pequeno porte e pintados – estes são os venenosos, cujo nome científico é sphoeroides spengleri.

O terceiro é um peixe maior, com cerca de 35 centímetros, também chamado pelos caiçaras de pachaco, rouba-isca ou baiacú bandeira”. Este último nome se deve à sua coloração, igual a da bandeira do Brasil: verde no dorso e branco amarelado no ventre. Seu nome científico é lagocephalus laevigatu.

“O baiacu pachaco não oferece perigo ao consumidor. Nós fizemos vários testes com relação ao seu nível de toxina e ele não tem a quantidade de veneno suficiente para fazer mal”, explica o biólogo Freitas.

Esta toxina, uma substância chamada tetrodotoxina, está presente nos pequenos baiacús, os pintadinhos, em quantidade tal que pode envenenar um adulto caso seja ingerida. Estes pequenos baiacús também são chamados de “rouba-isca”, porque possuem uma boca bem pequena, que na maioria das vezes não pega o anzol, mas que sempre pega a isca, o danadinho.
O professor explica que estes pequenos baiacús, os pintados, apesar de serem muito tóxicos, podem ser manipulados com as mãos sem perigo, mas nunca devem ser ingeridos.

Já o baiacú grande, que tem aparecido muito nos últimos dias na Praia de Guaecá, segundo relato de pescadores, se parece com o peixe que os japoneses consomem lá no Japão, É uma espécie de bom tamanho para alimentação.

Cuidado

Segundo o pesquisador, os pescadores em geral abrem o baiacu pachaco com cuidado, primeiro removendo suas vísceras para que o fel contido na vesícula biliar não contamine a carne, deixando-a amarga. Este fel, no entanto, de acordo com as pesquisas realizadas, não é tóxico.

Já o pequeno baiacú, tem o veneno espalhado em todos os tecidos do corpo, principalmente na pele, que possui um teor super alto de toxina, podendo matar até 100 camundongos. Já a toxina existente na pele do baiacu pachaco não mata nem um camundongo, conforme as pesquisas realizadas em laboratório.

Uso militar

“No ano passado, nós também pesquisamos duas espécies de baiacú no Amazonas, no Rio Tocantins. Estudei uma delas e constatei que este baiacú de água doce tem outra toxina, chamada saxitoxina. Outros estudos comprovaram que este baiacú de água doce também na Ásia contem esta mesma toxina”, conta o biólogo.

“Também perigosa e muito poderosa, ela está sendo estocada pelo exército americano para uso na guerra. Esta substância pode matar uma pessoa rapidamente, em menos de meia hora. Assim como a toxina do nosso pequeno baiacú pintado, ela paralisa os nervos e a pessoa para de respirar”, explica ele.

Freitas conta que esteve em Maryland, perto deste laboratório do exército americano, e pode assistir a apresentação do trabalho de um oficial que utilizou esta saxitoxina em cobaias de laboratório com um spray, demonstrando que quando é inalada em gotículas, a morte é mais rápida ainda.

Veneno tão poderoso, no entanto, quando usado pelo peixe na natureza, no mar, ele serve para a comunicação química entre os seres vivos. A fêmea do baiacú libera esta toxina para atrair o macho, junto com os óvulos não fecundados; conseguindo com que o macho se aproxime, jogando seu esperma em cima dos óvulos, fecundando-os.

“Na década de 40, os japoneses já sabiam que esta substância era muito tóxica, mas é um hábito no país consumir este peixe. Todo ano, até hoje, pelo menos um japonês morre envenenado porque eles gostam de manter a tradição de comer o baiacú.

Principalmente as famílias que moram no litoral, elas continuam pescando e comendo o baiacú pintado. Já no Brasil, estes acidentes são raros”, relata Freitas. Ele dá notícia também de um caso ocorrido no Paraná, onde o baiacú estava sendo vendido como bagre em feiras livres, até que a Vigilância Sanitária identificou e proibiu este comércio.

Como preparar

Freitas ensina como preparar filés maravilhosos com o baiacú grande, o pachaco. O couro deste peixe, que não tem escamas, deve ser cortado entre a cabeça e o corpo, e ser puxado, como se fosse uma luva, retirando o couro até o fim do peixe. Em seguida se retiram suas vísceras. E está pronto: dois filés deliciosos!

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