terça-feira, 7 de dezembro de 2010

VEREADOR CANALHA ESTÁ SOLTO






O que aconteceu ao autor do tapa na cara do Brasil decente


Bruno Abbud

Em 24 de setembro, quase três meses depois da bofetada no rosto da jornalista Márcia Pache, a Câmara Municipal de Pontes e Lacerda, cidade de 41 mil habitantes no oeste de Mato Grosso, cassou o mandato do vereador Lourivaldo Rodrigues de Morais, o Kirrarinha, por quebra do decoro parlamentar. Proposta pela CPI que apurou o caso, a cassação foi aprovada por seis dos nove vereadores. Um se absteve, outro alegou motivos de saúde para ausentar-se. Só Kirrarinha votou a favor de si mesmo.

A Câmara agiu com a rapidez que anda faltando à polícia, à Justiça e ao DEM, partido a que está filiado o agressor. “Naquele dia, eu bati com a cabeça na parede e machuquei o braço”, avisa Márcia. Depois da agressão, ela submeteu-se ao exame de corpo de delito e registrou um Boletim de Ocorrência na delegacia. Kirrarinha ficou detido apenas duas horas.

A polícia encaminhou um inquérito ao Ministério Público, que remeteu a denúncia ao fórum da cidade. “O processo está parado no Juizado Especial Criminal”, informa o juiz Gerardo Humberto, da comarca de Pontes e Lacerda. “Uma audiência está marcada para o mês de dezembro”. O advogado da TV Centro Oeste, vinculada ao SBT, onde trabalha a jornalista agredida, promete entrar com um pedido de indenização na próxima quarta-feira, 8 de dezembro.

Oscar Ribeiro, presidente do diretório do DEM de Mato Grosso, disse que o partido aguarda a decisão da Justiça para decidir se expulsa ou não Kirrarinha. O mandado de segurança impetrado pelo vereador cassado contra o presidente da Câmara foi indeferido pelo juiz Gerardo Humberto, mas a sentença só será expedida em 10 dias.

“Kirrarinha tem direitos”, desconversa Oscar Ribeiro. “Preciso saber do pensamento da Justiça para depois pensar em expulsar alguém do partido. A agressão em si é motivo para expulsar, mas eu tenho que esperar a Justiça analisar os motivos da agressão”. Segundo Ribeiro, a repórter agredida “já tinha dado notícias contra ele antes, ela já tinha dado notícia de que ele estava envolvido com corrupção”.


O deputado Rodrigo Maia, presidente do DEM, promete realizar até o dia 15, em Brasília, a reunião que decidirá o destino de Kirrarinha. Segundo Maia, a expulsão ainda não se consumou porque o tema não fora apresentado à direção nacional. “A gente espera que o DEM mantenha a posição inicial de cassá-lo”, diz Márcia Pache. “Mas o senador Júlio Campos, irmão do senador Jayme Campos, faz pressão para o vereador permanecer no partido. São aliados de Kirrarinha”. Passados três meses, a jornalista não sabe se continuará trabalhando em Pontes e Lacerda. “Estou muito amedrontada”, admite.

No dia da cassação do mandato, Kirrarinha lotou as dependências da Câmara com manifestantes que chegaram a bordo de três vans fretadas pelo agressor. “Foi uma baixaria”, relata Márcia. Os vereadores favoráveis à punição foram insultados pelo grupo alugado. Mas não se registraram mais bofetadas.

O diretório regional do DEM de Mato Grosso informou que o ex-vereador mora numa chácara nos arredores da cidade. A reportagem do site de VEJA tentou encontrá-lo durante um dia inteiro. Escondido ou não, uma coisa é certa: Kirrarinha não gosta de ser entrevistado. Nem por telefone.

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