sábado, 11 de dezembro de 2010

Mãe apoia filho que se veste como mulher. E você?


Marcela Buscato



Cheryl Kilodavis era uma mãe americana comum. Até que seu filho Dyson, de 5 anos, começou a manifestar frequentemente a vontade de usar roupas femininas. O gosto peculiar para um garoto já era uma característica de Dyson: desde os 2 anos, tudo o que era brilhante e cor-de-rosa despertava seu interesse. Cheryl resolveu encorajar a atitude do filho e escreveu o livro “My Princess Boy” (algo como “Meu Garoto Princesa”), que conta a história de um menino que, assim como Dyson, usa roupas femininas.

O livro, publicado de maneira independente, começou a ser usado na escola de Dyson, em Seattle, como uma cartilha antibullying. Fez tanto sucesso que ganhará este mês uma edição da Simon & Schuster, uma grande editora americana. O caso de Dyson parece ímpar porque o menino se veste de princesa, com tules, babados e brilhos, e sai por aí. Não só no Halloween, como aconteceu com Boo, o menino americano que se vestiu de Daphne, a personagem do Scooby Doo, na festa de Halloween da escola (e que também recebeu apoio dos pais).

Capa do livro "My Princess Boy"

Os pais de Dyson enfrentaram reações negativas. Algumas pessoas disseram que bateriam no filho se ele quisesse sair de bailarina por aí. Há quem diga que Cheryl e o marido, Dean, estariam prejudicando a masculinidade de Dyson. Mas o que isso significa? Para começar, ninguém se torna homossexual. Muito menos por usar rosa ou qualquer outra cor ou vestimenta que as convenções sociais determinaram como femininas. Ou, por acaso, as mulheres se tornaram homossexuais depois que começaram a usar calça, considerada por séculos uma peça exclusivamente masculina? A Martha já escreveu aqui no blog sobre a ditadura do rosa para as meninas . Afinal de contas, por que menina usa rosa e menino usa azul? E gostar de rosa faz alguém gay por que a sociedade decidiu que rosa é cor de menina? Pensando bem, esquisito é acharmos isso normal, e não Dyson gostar dessa cor. A mãe dele entendeu direitinho. “Eu sei que as escolhas dele não têm nada a ver com definição de gênero. Diz respeito apenas ao o que ele acha bonito.”

Mesmo os especialistas não acreditam que haja uma relação entre as preferências mostradas por crianças e a orientação sexual delas. Não se pode extrapolar um comportamento presente, que pode ser influenciado pela presença de irmãs ou amigas, por exemplo, para toda uma vida. No caso do menino Boo, que se vestiu de Daphne, uma amiga da irmã dele usou a mesma fantasia. E aí se ele quis copiar? Eu sou a única menina da família. Cresci com os joelhos esfolados de tanto jogar bola e andar de bicicleta, achava muito mais legal brincar de carrinho e não entendia por que meu irmão e meus primos podiam ficar sem camisa e eu não. Achava uma injustiça. Hoje adoro cor-de-rosa e me acho muito mais sortuda do que os meninos porque tenho a possibilidade de comprar uma infinidade de roupas. É claro que exemplos anedóticos não têm nenhuma validade científica – e os pesquisadores dizem que ainda hoje não há estudos confiáveis capazes de relacionar as preferências infantis à orientação sexual futura. Mas, vamos supor que Dyson e outros meninos que gostam de fantasias de menina sejam gays, qual é o problema? Deveriam os pais bater nos filhos, como sugeriram alguns bárbaros aos pais de Dyson, para “corrigir o problema”? É caso de cadeia dupla: por preconceito e violência.

Só temos a ganhar com crianças como Dyson e com pais como o dele. Será que os coleguinhas de Dyson não vão crescer e se tornar uma geração que acha que não tem nada demais menino usar rosa e roupa de princesa, seja pelo motivo que for?

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