domingo, 30 de maio de 2010

PARABÉNS!!! JORNAL O VALE - LEGALIDADE x ÉTICA

Idéias
Maio 30, 2010 - 03:39
Legalidade versus ética
CARLOS ALBERTO DI FRANCO
JORNAL O VALE



A imprensa paranaense está escrevendo um belo capítulo na história do jornalismo de qualidade, um exemplo a ser seguido por todos nós. A investigação ética é sempre a melhor aliada da cidadania. Foi o que se viu na série de reportagens do jornal Gazeta do Povo e da Rede Paranaense de Comunicação (RPC-TV), veiculadas em meados de março. Os repórteres Katia Brembatti, Karlos Kohlbach, James Alberti e Gabriel Tabatcheik devassaram uma poderosa máquina de corrup-ção que, há anos, domina o Poder Legislativo do Paraná.
A Assembleia Legislativa do Paraná escondeu 56,7% de seus atos em diários avulsos, inacessíveis ao público, muitos sem numeração e publicados em datas aleatórias, desconectadas com a época dos fatos publicados. Os repórteres tiveram acesso a mais de 700 diários editados entre 1998 e 2009 e durante dois anos cruzaram o conteúdo das publicações. Foi um formidável investimento em jornalismo investigativo. Essa aposta na denúncia bem fundamentada revelou situações como a da agricultora Jermine Leal e sua filha Vanilda Leal, moradoras em casas pobres, de chão batido, na área rural de Cerro Azul, a 100 km de Curitiba. Sobrevivem graças ao Bolsa-Família. Mas na documentação da Assembleia Legislativa do Paraná apareciam como beneficiárias de R$ 1,6 milhão ao longo de cinco anos, dinheiro que nunca viram.
Os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) já comprovaram que o esquema de corrupção montado dentro da Assembleia Legislativa desviou pelo menos R$ 26 milhões dos cofres públicos. Esse valor equivale aos depósitos feitos pela Casa na conta bancária de 17 funcionários fantasmas. A estimativa dos promotores, no entanto, é de que o desvio total chegue a R$ 100 milhões. Até o momento, 18 pessoas foram presas por conexão com o esquema criminoso.
Diante do quadro levantado pela série de reportagens, a seção paranaense da OAB lançou, há três semanas, o movimento "O Paraná que queremos", que em carta aberta conclama a sociedade paranaense a pedir transparência no Legislativo e a punição dos envolvidos nas denúncias. A conclamação surtiu efeito. O movimento chegou até agora à marca de 142 adesões por parte de entidades, 136 de empresas e 152 de pessoas físicas. O movimento mostra que a sociedade reage às denúncias da imprensa.
A Assembleia Legislativa do Paraná, numa reação recorrente em situações semelhantes, classificou como ilegal e antidemocrática a campanha "O Paraná que Queremos". Em carta intitulada "Por um Paraná justo, legal e ordeiro", entregue à OAB-PR, o procurador do Legislativo Marco Antonio Marconcin afirma que os anúncios de adesões publicados pela OAB-PR na Gazeta do Povo e exibidos na RPCTV ferem "o princípio da legalidade e respeito às instituições no marco da democracia constitucional".
É o comportamento de sempre. "Legalidade" versus ética. Presunção de inocência versus transparência nos assuntos públicos. Como se fosse possível construir o Estado de direito de costas para os valores éticos. Registro, entusiasmado, o bom exemplo dos jornalistas do Paraná: uma denúncia sólida e irrefutável. Complementa-se o dever da denúncia com o que eu chamaria de jornalismo de buldogues. Precisamos, todos, ser a memória da cidadania. Seria bom, em período eleitoral, relembrar os nomes dos deputados e funcionários que participaram ativamente dos desmandos criminosos.

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