sábado, 22 de maio de 2010

CHERY CIELO - MADE IN CHINA






Primeira impressão: Chery Cielo
Dirigimos o chinês que chega por R$ 41.900 para brigar com Focus e Cia

Texto: Rodrigo Ribeiro

Fotos: Do autor
(19-05-10) - Neste mês o segmento de hatchs médios ganhou mais um participante. Ele é maior do que o VW Golf, mais potente do que o Ford Focus e tão completo como o Citroën C4. Além disso, seu preço é inferior a todos os seus concorrentes: R$ 41.900. Interessou? Faltou um detalhe: ele é chinês. Será que isso pesa?

Produzido pela Chery, o Cielo chega ao Brasil repleto de dúvidas e preconceitos. Para conferir como anda o mais novo sino-brasileiro, o WebMotors viajou até Brasília (DF) e conta onde o Cielo nada de braçada - e onde ele pode se afogar.

Multinacional

Nome de brasileiro, cara de italiano e coração de chinês. Exemplo da globalização, o Cielo precisou ser rebatizado no Brasil devido a questões autorais com a Audi – na China seu nome é A3. Já o desenho foi feito pelo estúdio Pininfarina, famoso por desenhar os principais modelos da Ferrari.

A mistura deu certo. O nome, escolhido por votação via internet, é fácil de pronunciar e está consolidado no vocabulário popular. Já o visual do carro explica por que a Itália é referência em design. Com linhas suaves, o hatchback tem desenho agressivo sem exagerar. A carroceria foi projetada nos mínimos detalhes, que incluem a maçaneta da porta traseira escondida, o brake-ligh proeminente no teto, duas ponteiras de escape (funcionais) e ausência de limpador traseiro.

“Você não disse que o carro era tão completo como o C4?”, me questionarão os atentos leitores. De fato, o Cielo é recheado: ar-condicionado, direção hidráulica, trio-elétrico, ABS e airbag duplo vêm de fábrica. Contudo, o limpador traseiro não existe nem como opcional, apesar de haver espaço para a máquina do equipamento na tampa do porta-malas.

A justificativa da fábrica é que o próprio desenho da carroceria se encarregaria de limpar o vidro traseiro. Apesar da inclinação da tampa ser próxima da encontrada no Ford Focus – que possui o equipamento –, somente o (mau) tempo dirá se a Chery acertou ao tirar a palheta traseira de seu hatch.

Por dentro

Ao abrir a porta do Cielo, a primeira surpresa: os comandos das travas elétricas e o bloqueio dos vidros traseiros são iguais aos encontrados no Golf e Bora. Longe de ser um problema, o compartilhamento de componentes é comum entre fabricantes (apesar de boa parte dessas peças não estar ao alcance dos olhos).

O banco tem tons claros e o encosto é envolvente, “abraçando” o motorista. Está longe de ser um Recaro, mas pode agradar aos motoristas (e seu carona) que gostam de fazer curvas mais rápidas. O console central conta com dois grandes portas-trecos, um deles similar a um painel digital central. O verdadeiro painel fica à frente do motorista, reunindo os mostradores básicos: velocímetro, conta-giros, indicador de nível de combustível e temperatura do motor, além de um pequeno visor de cristal líquido.

O ar-condicionado de acionamento manual possui regulagens um pouco duras, mas tem potência suficiente para os mais calorentos. Abaixo dele ficam dois porta-copos escamoteáveis e outro porta-trecos. Do lado esquerdo do volante (com regulagem de altura) ficam os comandos dos retrovisores elétricos e alteração de altura do facho do farol.

Com 2,55 m de entre-eixos, o espaço interno é suficiente para acomodar com conforto quatro adultos. A coluna C, muito inclinada, incomoda passageiros que tem mais de 1,75 m de altura. Os bancos são macios e possuem estampa clara, pouco comum no Brasil, mas que dá sensação de espaço. O acabamento geral do carro é bom, com plásticos agradáveis ao toque e com poucas rebarbas. A qualidade de construção é condizente com o preço.

Ao volante

A unidade avaliada era destinada ao test-drive dos clientes da concessionária Dali. Por questões do seguro do veículo, nosso percurso ficou restrito a um trajeto de pouco mais de um quilômetro nos arredores da revenda. O traçado incluía uma avenida movimentada repleta de lombadas e semáforos, permitindo analisar o comportamento do Cielo nas grandes cidades.

A chave canivete dá a partida no motor 1,6-litro 16V de 117 cv de potência (a 6.150 rpm). Movido somente a gasolina, o propulsor tem funcionamento silencioso, em parte graças às mantas acústicas adotadas no cofre do motor. O comando de válvulas não possui variador, o que justifica o torque em elevadas rotações. São 147 Nm (15 kgfm) entre 4.300 rpm e 4.500 rpm.

O problema fica mais evidente em saídas de semáforos, obrigando o motorista a pisar fundo para acompanhar o fluxo. O quatro-cilindros só ganha fôlego acima das 3 mil rotações por minuto, o que pode elevar o consumo do carro, mensurável pelo mostrador digital no painel.

A suspensão é firme sem incomodar e pode surpreender os críticos por sua arquitetura, independente nas quatro rodas, como no Ford Focus. Apesar de não ter exagerado nas curvas, foi possível notar que o carro transmite segurança para o motorista comum. O freio a disco nas quatro rodas é gradual e assistido pelo ABS. Pneus 205/55 com rodas de 16 polegadas entram na tendência do segmento de aros maiores.

Mercado

Até abril de 2010 foram vendidos 2.522 unidades entre os principais modelos chineses oferecidos no Brasil. A maioria entra no segmento de pequenas vans e picapes voltados para o comércio, mas os 698 Tiggo faturados indicam que o mercado está, gradualmente, recebendo os modelos oriundos da China.

As dúvidas que ainda pairam sobre a confiabilidade e manutenção dos veículos estão entre as prioridades das chinesas. Assim como o Tiggo, o Cielo tem três anos de garantia total e conta com cerca de 50 revendas no Brasil inteiro. E vem mais por aí: os primeiros carros da JAC já chegaram ao país para homologação, com vendas previstas para o segundo semestre.

A fatia do mercado nacional das chinesas ainda é pequena, mas pode aumentar. As fábricas do outro lado da grande muralha estão se afastando do estereótipo de fotocopiadoras e estão aprendendo a fazer carros melhores e mais atraentes – assim como fizeram as japonesas e sul-coreanas há duas décadas.

Resumo

Custando mais de R$ 10 mil a menos do que alguns concorrentes, o Cielo é honesto: possui acabamento e desempenho próximo de seus rivais, com a vantagem de um desenho atual. A dúvida se restringe apenas se o Cielo irá ficar restrito a um pequeno volume de vendas ou se terá forças para nadar no mar aberto dos hatchs médios.


FICHA TÉCNICA – Chery Cielo Hatchback

MOTOR Quatro tempos, quatro cilindros em linha, transversal, refrigeração a água, 1.597 cm³
POTÊNCIA 117 cv (gasolina) a 6.150 rpm
TORQUE 147 Nm (gasolina) a 4.300 rpm
CÂMBIO Manual, com cinco marchas
TRAÇÃO Dianteira
DIREÇÃO Por pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
RODAS Dianteiras e traseiras em aro 16” de liga-leve
PNEUS Dianteiros e traseiros 205/55 R16
COMPRIMENTO 4,28 m
ALTURA 1,47 m
LARGURA 1,79 m
ENTREEIXOS 2,55 m
PORTA-MALAS 337 l
PESO (em ordem de marcha) 1.375 kg
TANQUE 64 l
SUSPENSÃO Dianteira independente, tipo McPherson; traseira independente, tipo multibraço
FREIOS Discos ventilados na dianteira e sólidos traseira
CORES -
PREÇO R$ 41.900

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