quarta-feira, 19 de maio de 2010

IRÃ - O " ACÔRDO" ESTÁ FAZENDO ÁGUA


Países enviam ao Conselho de Segurança proposta de sanções ao Irã; Brasil reage


Colaboração para a Folha

Os Estados Unidos entregaram nesta terça-feira ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) uma proposta de resolução para ampliar as sanções contra o Irã por causa de seu programa nuclear, após convocarem uma reunião de emergência.

O Ocidente acusa o Irã de desenvolver um programa nuclear com fins militares, mas Teerã defende que a finalidade é pacífica.

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Vahid Salemi/AP - 17.mai.10

Celso Amorim (esq.), Luiz Inácio Lula da Silva, Mahmoud Ahmadinejad, e Recep Tayyip Erdogan (dir.) comemoram acordo

Além de Reino Unido, França e Alemanha, os EUA conseguiram conquistar também o apoio de Rússia e China para a nova proposta de sanções, após meses de negociação.

A decisão de circular a resolução ao Conselho de Segurança da ONU nesta terça-feira desconsiderou abertamente o acordo fechado entre Brasil, Turquia e Irã, divulgado ontem.

Para autoridades americanas, o acordo foi apenas uma manobra do Irã para adiar o anúncio de novas sanções contra o país.

Reação brasileira

A embaixadora do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, Maria Luiza Ribeiro Viotti, deixou claro nesta terça-feira que o país está insatisfeito com a divulgação de um esboço de sanções contra o Irã, após uma reunião do grupo na tarde de hoje.
Eraldo Peres/AP
Para Celso Amorim, todos os pontos considerados essenciais pela comunidade internacional foram acatados pelo Irã no acordo firmado
Para Celso Amorim, todos os pontos considerados essenciais pela comunidade internacional foram acatados pelo Irã no acordo firmado

"O Brasil não vai entrar em nenhuma discussão nesse momento porque achamos que é uma situação nova", disse ela. "Houve um acordo muito importante ontem."

Já o chanceler Celso Amorim disse que irá reagir dentro do Conselho de Segurança da ONU e que está escrevendo uma carta a quatro mãos com o chanceler turco para enviar aos membros do conselho.

Na mensagem, os dois países irão justificar que todos os pontos considerados essenciais pela comunidade internacional foram acatados pelo Irã no acordo firmado ontem entre Brasil, Irã e Turquia.

Resistência

Poucas das medidas propostas são novas, mas diplomatas do Ocidente disseram que o resultado é o melhor que poderiam esperar, dada a determinação da China e da Rússia em evitar medidas que pudessem prejudicar a economia do Irã e suas relações bilaterais com o país do Oriente Médio.

O embaixador da China no Conselho na ONU, Li Baodong, disse que, se a nova rodada de sanções for aprovada, isso não deve prejudicar o comércio normal com Teerã. "O objetivo das sanções é trazer o lado iraniano para a mesa de negociações. As sanções não são para punir pessoas inocentes e não devem prejudicar o comércio normal."

Sanções

A proposta prevê punições a bancos e outras empresas do país, além da criação de um regime internacional de inspeções em navios suspeitos de transportar cargas relacionadas aos programas nuclear e de mísseis.
Michael Reynolds/Efe
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton; EUA, Rússia e China elaboram texto com sanções ao Irã
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton; EUA, Rússia e China elaboram texto com sanções ao Irã

O documento de dez páginas, ao qual a Reuters teve acesso, "pede aos Estados que adotem medidas adequadas para proibir (...) a abertura de novas agências, subsidiárias ou escritórios de representação de bancos iranianos" caso haja razões para supor que tais bancos estejam vinculados a atividades de proliferação nuclear.

O esboço também aponta "a necessidade de exercer vigilância sobre transações que envolvam bancos, inclusive o Banco Central do Irã, de modo a evitar que tais transações contribuam para a proliferação de atividades nucleares sensíveis" ou para o desenvolvimento de sistemas para o lançamento de armas atômicas.

A quarta rodada de sanções ao Irã ampliaria o embargo armamentista já em vigor contra o país, incluindo novas categorias de armamentos pesados.

Vários diplomatas ocidentais do Conselho de Segurança disseram que o órgão da ONU, com 15 países, deve votar a resolução no começo de junho.

Os dez membros não permanentes do Conselho --inclusive Brasil e Turquia, que acabam de mediar um acordo nuclear com o Irã-- deveriam receber o texto durante uma reunião que estava em andamento nesta terça-feira na sede da ONU, segundo os diplomatas.

Acordo tripartite

O Irã se comprometeu com mediadores do Brasil e da Turquia a enviar parte de seu urânio para ser enriquecido no exterior, em uma aparente concessão sobre seu programa nuclear.

O acordo de dez pontos permite ao Irã manter o enriquecimento de urânio a 20%, processo iniciado em fevereiro passado, depois do fracasso da negociação com as potências em Viena.

O pacto determina que o Irã envie 1.200 quilos de seu urânio enriquecido a 3,5%, em troca de 120 quilos de urânio enriquecido a 20% na Rússia ou França --muito abaixo dos 90% necessários para uma bomba. O urânio enriquecido seria devolvido ao Irã em um ano.

A troca acontecerá na Turquia, país com proximidades com Ocidente e Irã, e sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e vigilância iraniana e turca.

Os presidentes Mahmoud Ahmadinejad e Luiz Inácio Lula da Silva, e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, decidiram enviar a proposta no prazo de uma semana para a a avaliação da AIEA.

Após a divulgação do acordo, no entanto, um porta-voz iraniano disse que seu país seguirá enriquecendo urânio a 20% "em seu território", o que põe em dúvida o objetivo puramente civil do programa nuclear de Teerã.

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