sábado, 30 de maio de 2009

O TRABALHO DELE É BEBER UÍSQUE ( PARTE I ) ISTO É DINHEIRO


Estilo

O trabalho dele é beber
Como o inglês Jim Murray, a maior autoridade em uísques do mundo, influencia a indústria e prova mais de três tipos da bebida por dia

CAROLINA GUERRA

Ele largou a carreira de jornalista para beber uísque, e não é só um copinho não. São, no mínimo, três scotchs diferentes por dia - o que, no fim de um ano, chega a quase mil garrafas degustadas. o que poderia ser uma história trágica de alcoolismo foi, na verdade, uma virada na história profissional do britânico Jim Murray, de 51 anos. Atualmente, esse beberrão confesso é a maior autoridade no universo do uísque. Murray é o autor do respeitado livro "Whisky Bible", a Bíblia do Uísque, uma edição anual que traz a avaliação de mais de 3,8 mil rótulos da bebida produzida ao redor do mundo.

"Se eu engolisse tudo o que experimento, eu provavelmente viraria um alcoólatra, talvez até um alcoólatra morto", confessa Murray. Qual é o segredo de seu trabalho? Para não errar na dose, ele afirma que apenas sente o gosto da bebida, analisa a cor, os aromas e não engole. Afinal, Murray prova uísques de todos os tipos, idades e ingredientes exatamente como saem da garrafa, ou seja, sem água e sem gelo. E, para a surpresa de quem desconhece esse mundo etílico, existem excelentes destilarias fora da Escócia. "Eu não diria que o uísque escocês é automaticamente o melhor", aponta Murray. "Há uísques de má qualidade que vêm de lá.

Alguns não foram maturados o suficiente ou foram armazenados sem cuidado e acabam tendo um gosto de sujeira. Há muitos novos players no mercado", dispara o inglês. Na lista de Murray, porém, o título de melhor uísque do mundo ficou com o Ardbeg Uigeadail, da destilaria Ardbeg, localizada na ilha de Islay, no sudeste da Escócia. Um outro escocês, uma edição limitada do Glenfarclas, foi eleito o melhor na categoria dos uísques acima de 40 anos e o Ballantine's Finest recebeu o título de melhor blended na categoria dos uísques standard. O segundo melhor do mundo, entretanto, ficou com um exemplar vindo do Japão. Isso mesmo! Do Japão. Trata-se do Nikka Whisky Single Coffey 12 anos.

JIM MURRAY:

"Se eu engolisse tudo o que experimento, eu provavelmente viraria um alcoólatra, talvez até um alcoólatra morto"

Murray tem razão quando fala de novos players. As destilarias escocesas, que antes dominavam o cenário, agora competem com bebidas de qualidade vindas de regiões como a Ásia e a América do Norte. Essa mudança no cenário global aconteceu no início da década de 80, logo após a crise gerada pelo segundo choque do petróleo, quando várias destilarias escocesas fecharam as portas. Como dominavam o setor, deram de ombros quando outros países começaram a se aventurar no negócio do uísque e, de certa forma, perderam terreno.

A Escócia, que exportou US$ 4,7 bilhões em scotch no ano passado, ainda é para o uísque o que a França é para o vinho, mas, aos poucos, está deixando de ter destaque. Nesse cenário, as indicações de Murray são moedas de valor. Assim como as notas do americano Robert Parker têm o poder de influenciar os preços das safras de vinho, as seleções de Murray são convertidas em vendas para as destilarias. "Criamos um selo de uísque do ano para pôr em todas as garrafas do Ballantine's Finest", diz Deborah Craig, gerente da Ballantine's no Brasil. "Murray é a maior autoridade no mundo do uísque. O seu livro tem grande importância", diz César Adames, professor de tecnologia em bebidas da faculdade Anhembi Morumbi

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