sexta-feira, 27 de agosto de 2010

CITROEN AIRCROSS

Revista

Avaliação: Citroën Aircross
Desenvolvido para o Brasil, Aircross é aposta da Citroën para fazer volume e se consolidar no país

Texto: Fernando Miragaya/Auto Press



(26-08-10) - A Citroën percebeu que para fazer mais sucesso comercial no Brasil é preciso, antes de tudo, se adequar aos gostos peculiares do consumidor brasileiro. Ou seja, não basta apenas trazer bons produtos pensados originalmente para a Europa. Desta forma surgiu o C3 Aircross.

O modelo é uma versão do monovolume C3 Picasso que tenta atender justamente ao gosto nativo por veículos com imagem off-road. O pretenso utilitário esportivo compacto se vale de um modelo europeu, mas coloca uma roupagem aventureira no carro antes mesmo de as versões normais chegarem – o C3 Picasso só deve ser lançado no primeiro trimestre de 2011. E é com ele que a montadora pretende elevar seus 2,5% atuais de participação para algo em torno de 3,5%, com a meta de duas mil unidades do Aircross vendidas por mês.

A marca francesa aproveitou para misturar a robustez transmitida pela estética “aventureira” do seu novo carro à imagem de requinte que conseguiu construir no mercado brasileiro. Essa “dupla face” o crossover já transmite no estilo. O Aircross segue a lógica dos off-road lights e ostenta um visual jipeiro sem cometer abusos, em um estilo bem harmonioso e elegante. O jeitão parrudo é reforçado pelas dimensões, já que o modelo tem 8 cm a mais no entre-eixos em relação ao C3 hatch, além de um eixo 3,6 cm mais alto na frente e 4,1 cm elevado atrás na comparação com o C3 Picasso “original”.

Com isso, o Aircross é distribuído em 4,28 metros de comprimento, 1,69 m de largura, 1,75 m de altura e 2,54 m de entre-eixos. Na frente curta, o capô é elevado e tem duas protuberâncias. Os faróis parecem se projetar para fora e têm contornos irregulares e geométricos. Entre eles, a entrada de ar central com o novo Deux Chevron da Citroën insinuado.

O compacto reforça o ar austero com seus para-choques integrados aos paralamas. Um acabamento preto proeminente “guarda” a entrada de ar inferior e separa os faróis de neblina alojados em caixas na cor cinza. Ainda na frente, o Aircross chama a atenção pelo para-brisa panorâmico com janelas espias na coluna da frente, estilo já empregado na linha C4 Picasso. As barras longitudinais nascem na base destas colunas dianteiras e se estendem até o fim do teto.

De perfil, o crossover tem discretas molduras escuras das caixas de roda e um pequeno estribo lateral prateado. Itens tímidos que contrastam com as garrafais letras do nome “Aircross” estampada na lataria. A traseira é mais chapada e bojudinha. As lanternas verticais paralelas ao vidros têm contornos arredondados, enquanto o aerofólio tem uma pequena curvatura. A vontade off-road é expressa mais uma vez no estepe pendurado na porta traseira, que “empurrou” a placa para o lado direito da tampa do porta-malas.

Na parte de posicionamento, o Aircross deixa claro que quer se diferenciar e esbanjar certa sofisticação no segmento de pretensos fora-de-estrada. O modelo terá preços entre R$ 55 mil e R$ 65 mil e todas as três versões contam com o motor 1,6 16V de 110 cv /113 cv (G/E). Uma forma de ficar competitivo frente aos rivais, afinal, o Ford EcoSport XLS 1,6 parte dos R$ 58.290 com um recheio parecido, enquanto Volkswagen CrossFox e Fiat Palio Adventure Locker começam em R$ 55.020 e R$ 58.800 quando equipados com o mínimo que o Aircross tem.

Mas a versão GL, a inicial do modelo da Citroën, sai apenas com o óbvio: ar, direção elétrica, trio apenas com os vidros dianteiros elétricos, travamento automático das portas, computador de bordo, porta-luvas refrigerado, chave tipo canivete com keyless, entre outros. A intermediária GLX recebe a mais faróis de neblina, vidros traseiros elétricos, ajuste de altura do banco do motorista, rádio/CD/MP3, bússola e inclinômetro digitais e rodas de liga leve diamantadas. A top Exclusive é, disparada, a mais interessante. É a única que conta com airbag duplo e ABS. Além disso, é equipada com alarme, controle de cruzeiro, ar automático, ajuste de altura dos encostos de cabeça traseiros, mesinhas tipo avião, rádio com Bluetooth e entrada USB, couro, maçanetas internas, pedaleiras e retrovisores cromados. A lista de opcionais, além dos airbags laterais e sensores de estacionamento, luminosidade e de chuva, conta com o navegador GPS, que é embutido na parte central superior do painel no lugar dos inclinômetros e da bússola.

Instantâneas
# O C3 Aircross é produzido na planta da PSA Peugeot Citroën em Porto Real, no Sul do Estado do Rio de Janeiro.
# O projeto do crossover compacto da marca francesa começou a ser idealizado entre 2005 e 2006.
# Durante a fase de desenvolvimento do projeto, foram utilizados cerca de 200 veículos, que rodaram mais de um milhão de km.
# Os pneus Scorpion 205/60 R16 de uso misto foram desenvolvidos pela Pirelli especialmente para o crossover.
# A Citroën diz que o índice de reciclagem do Aircross é de 85%, graças a materiais provenientes de garrafas pet recicladas, fibras naturais e feltros espalhados pelo carro.

Ponto a ponto
Desempenho – Os 113 cv (com etanol) do motor 1,6 garantem força para mover os 1.400 kg do Aircross. O propulsor responde quase prontamente ao pedal do acelerador. Essa agilidade e o câmbio bem escalonado, com relações 15% mais curtas, garantem acelerações bem “espertas” e até impressionantes. A Citroën não fala em números de desempenho e máxima, mas o zero a 100 km/h foi obtido em competentes 10,3 segundos. As retomadas são mais complicadas, principalmente em quinta marcha, e o crossover compacto só ganha mais força e embalo mesmo após os 3 mil giros. Nota 8.

Estabilidade – O Aircross demonstra ser bem construído e ter um bom nível de rigidez torcional. Apesar da altura de mais de 1,80 m, torce dentro da normalidade nas curvas e se mostra equilibrado em velocidades normais. Só mesmo ao entrar mais agressivo em uma curva é que o carro faz menção de sair de frente. Nas freadas bruscas, o modelo também mergulha dentro do previsível e o ABS de série na Exclusive ajuda a manter o carro sob controle do motorista. E, nas retas, mais uma prova do equilíbrio, com boa comunicação entre rodas e volante até 130 km/h. Nota 8.

Interatividade – O crossover da Citroën oferece uma posição elevada de dirigir e visibilidade dianteira e lateral excelentes, graças ao para-brisa panorâmico e às grandes janelas das portas. A visibilidade traseira fica um pouco mais complicada devido ao vidro diminuto. O sensor de obstáculos bem que poderia ser de série, já que o carro é alto e pode atrapalhar a visualização de crianças e pequenos obstáculos na hora de estacionar de ré. A maioria dos comandos está ao alcance das mãos, o volante oferece ajustes de altura e de profundidade, mas a regulagem de altura do banco só surge na intermediária GLX. Pontos negativos para a alavanca que reclina o encosto do banco, mal posicionada muito atrás do assento, e para o freio de estacionamento, que obriga o condutor a esticar o braço para acioná-lo. Já os comandos do som e do GPS, apesar de fugirem do usual, são intuitivos e práticos. A visualização do quadro de instrumentos é clara, mas os números do computador de bordo ficam quase ilegíveis em um display mínimo. Nota 7.

Consumo – A Citroën não fala em consumo, mas o computador de bordo acusava a alarmante média de 4,9 km/l em uso urbano e com etanol. Nota 6.

Tecnologia – O Aircross usa uma plataforma do C3 Picasso europeu, que é uma arquitetura aperfeiçoada e alongada do C3 fabricado aqui. O motor e o câmbio são conhecidos, mas eficientes. O modelo usa um bom jogo de suspensão reforçada e elevada, mas peca nos itens de segurança e de entretenimento, só disponíveis na versão top Exclusive ou como opcionais. Nota 7.

Conforto – O interior do crossover passa uma sensação de amplitude graças à altura elevada e à ampla área envidraçada. O vão para cabeças é excelente para todos os ocupantes e, na frente, motorista e passageiro também desfrutam de bom espaço para pernas. Atrás, até mesmo dois adultos e uma criança viajam sem grandes apertos. A suspensão reforçada dá conta do recado de filtrar os buracos. O isolamento acústico se mostra eficiente até os 120 km/h. Nota 8.

Habitabilidade – Apesar do bom acesso ao interior do carro, tanto na frente como atrás, as portas altas são pesadas. No habitáculo, os porta-objetos são poucos. Os porta-mapas são pouco práticos, mas conseguem acomodar garrafas pequenas. O porta-luvas é amplo e tem um porta-copos e toda a sorte de porta-trecos. As mesinhas tipo avião – localizadas nas costas dos bancos dianteiros – são sempre práticas, mas só estão disponíveis na Exclusive. O porta-malas, por sua vez, acomoda bons 403 litros. Nota 8.

Acabamento – O uso de materiais emborrachados e de detalhes cromados sofisticam o interior do Aircross. Painéis, bancos e forrações usam materiais agradáveis ao toque e aos olhos. Fechamentos e encaixes são precisos e só são percebidas rebarbas no acabamento das alças de apoio do teto. Nota 8.

Design – A Citroën transformou um monovolume esquisito em um pseudo-off-road interessante, que o deixa com jeitão de utilitário esportivo sem cometer pecados. As linhas robustas ganham detalhes sofisticados e arrojados e se resumem em um estilo bastante harmonioso e simpático. Nota 9.

Custo/benefício – O Aircross começa por volta de R$ 55 mil, mas oferece apenas o esperado na versão GL. A top Exclusive é a mais recheada, só que custa cerca de R$ 65 mil. De qualquer maneira, o modelo se situa entre EcoSport, Palio Adventure e CrossFox. Mas o exemplar da Volks, o principal alvo do modelo, oferece airbag e ABS de série e com os mesmo itens do Aircross inicial fica em R$ 56 mil. Nota 5.

Total – O Citroën C3 Aircross somou 74 pontos em 100 possíveis. Primeiras impressões: Na lógica da diferença
O C3 Aircross é uma grata surpresa para um segmento marcado por designs previsíveis e acabamentos a desejar. Por dentro, o modelo da Citroën causa ótima impressão. Nada de plásticos em excesso, revestimentos desleixados e rebarbas por tudo quanto é canto.

Apesar de ser um compacto, o acabamento interno do crossover mostra que a marca francesa teve capricho. Os materiais utilizados têm texturas bastante agradáveis. O painel frontal e o das portas é emborrachado e o forro do teto também aparenta qualidade.

Isso sem falar nos detalhes que tentam agregar sofisticação. O quadro de instrumentos ostenta três mostradores cônicos, em um estilo visto no DS3 e no DS4 High Rider Concept. Há acabamento preto liso acima do porta-luvas e no console central. Já as saídas de ar – com três simpáticas saídas circulares ao centro, em vez de duas usuais – têm revestimento em aço escovado. O material também é encontrado na manopla do câmbio, nas soleiras das portas com a inscrição “Citroën” e no volante. A direção, aliás, é um destaque à parte, com a boa pegada, o couro com as costuras aparentes e o design com a base retilínea.

Só que o Aircross também tem seus defeitos. A ergonomia peca na posição dos ajustes do encosto do banco do motorista e do freio de mão, que fica muito baixo e obriga o motorista a esticar o braço para acioná-lo. Os porta-objetos são pouco práticos e quase não há porta-copos no interior. Os engates do câmbio são pouco precisos e a visibilidade traseira é prejudicada pelo vidro diminuto. Mas a posição de dirigir é boa e elevada e o motorista tem ótimo campo de visão na frente. O condutor ainda conta com um banco que parece abraçá-lo e um espaço interessante. Todos os ocupantes desfrutam de bom vão para pernas e ótimo espaço para as cabeças.

No desempenho, o Aircross também se mostrou uma grata surpresa. A marca optou por reduzir em 15% as relações do câmbio manual. O resultado é uma transmissão que otimiza bem o trabalho do motor 1.6 16V de 113 cv – com 100% de etanol. As acelerações são até ágeis para um carro com 1,4 tonelada. As retomadas de velocidade pecam, pelo torque máximo disponível tardiamente, o que requer redução de marchas mais frequentes nas ultrapassagens e nos trechos de serra. Nas curvas, aliás, o “utilitário esportivo compacto” da Citroën se mostra equilibrado, sem menção de rolar a carroceria em velocidades normais. Na reta, o mesmo comportamento dinâmico se mantém elogiável, sem sensações de flutuações até os 120 km/h. O susto só vem mesmo na média de consumo denunciada pelo computador de bordo: 4,9 km/l.

Motor Dianteiro, transversal, 1.587 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro
Potência 110 cv com gasolina e 113 cv com etanol a 5.800 rpm
Torque 142 Nm (14,5 kgfm) com gasolina a 4 mil rpm e 155 Nm (15,8 kgfm) com etanol a 4.500 rpm
Câmbio Manual, com cinco marchas
Tração Dianteira
Direção Por pinhão e cremalheira, com assistência eletrohidráulica
Rodas Dianteiras e traseiras em aro 16” de liga-leve (opcional)
Pneus Dianteiros e traseiros 205/60
Comprimento 4,28 m
Altura 1,75 m
Largura 1,69 m
Entre-eixos 2,54 m
Porta-malas 403 l / 1.500 l com os bancos rebatidos (408 kg de capacidade de carga)
Peso (em ordem de marcha) 1.404 kg
Tanque 55 l
Suspensão Dianteira do tipo McPherson, com amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora.Traseira por travessa deformável, com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora
Freios Discos ventilados na frente e tambores atrás. Oferece ABS e EBD na versão avaliada
Preço R$ 55 mil a R$ 65 mil

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