sábado, 3 de outubro de 2009

MAS É PRECISO TER VONTADE

Guerra de quadrilhas no vestibular

sex, 02/10/09por Paulo Moreira Leite |categoria Geral| tags Vestibular
A novidade na tentativa de vender os exames do Enem não reside no negócio, em si. Nos últimos anos, ocorreram denúncias periódicas sobre a compra de provas do vestibular.

Em 2000, até exame de ingresso para a carreira do Ministério Público (veja só!) foi comprado.

A novidade é o destinatário. Até agora, os exames eram vendidos às pessoas que tinham um interesse na mercadoria — estudantes a caminho do vestibular, professores de cursinho e assim por diante. Como a experiência ensina, nunca faltarão clientes sem escrúpulos para esse tipo de oferta.

Desta vez, o exame foi oferecido para Renata Cafardo e Sergio Pompeu, do Estado de São Paulo. Não só. Laura Capriglione, da Folha, também recebeu a mesma oferta. O portal de notícias R7 também foi procurado. Eu sei que pelo menos um quarto jornalista, de uma grande redação de São Paulo, também foi procurado, nas mesmas condições, no mesmo período.

Isso demonstra que os ladrões queriam outra clientela: os jornais. A preocupação não era manter segredo de seu furto e passar uma informação privilegiada a quem quisesse fazer uso dela, pagando um bom preço por isso. Pelo contrário.

O que se pretendia era espalhar a notícia de que houve um roubo, divulgá-la ao máximo. A idéia era atingir alguma ou uma instituição.

Meu palpite é que estamos diante de uma guerra de quadrilhas. Uma parte prejudicada em negociações em torno de alguma etapa da confecção, impressão e distribuição do vestibular decidiu ir à guerra.

“Isso aqui derruba um ministério,” disse um dos ladrões, no encontro com os jornalistas do Estado. Talvez seja uma das frases mais inteligíveis da história.

Um escândalo desse tamanho, que prejudicou 4 milhões de jovens que passaram os últimos meses em preparativos para o vestibular, pode ser uma ótima oportunidade para se passar a limpo este mundo de segredos e artifícios. A Folha de hoje dá até o nome do dono de uma pizzaria que conhece os intermediários. Não deve ser impossível alcançá-los. Mas é preciso ter vontade.

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