quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O FANTOCHE DE R$ 160 BILHÕES


Brasil


O fantoche de R$ 160 bilhões
Quem é Luigi Nese, o empresário que chegou ao Codefat pelas mãos do governo e de sindicalistas

Alan Rodrigues


ASCENSÃO Luigi Nese levou o cargo disputado pelos maiores setores da economia
Até a tarde da segunda-feira 3, Luigi Nese era um empresário desconhecido. Ele preside a Confederação Nacional de Serviços (CNS) que, embora represente 67% do PIB nacional, só recentemente obteve o reconhecimento oficial. Apesar disso, nunca foi visto numa mesa de almoço ao lado dos grandes empresários do País. Sua empresa é a minúscula LRR Informática que de tão pequena não tem sequer página na internet. Muito menos funcionários.

No entanto, no início do mês, Nese ganhou notoriedade ao vencer o embate pela presidência do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat). O nome comprido é proporcional ao patrimônio que o ilustre empresário passou a administrar: R$ 160 bilhões.

A vitória de Nese não é de se subestimar. O cargo foi disputado pelos maiores setores da economia nacional.

Não é para menos. O Codefat é um colegiado responsável pela gestão do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que paga o seguro desemprego, o abono salarial e financia projetos do setor produtivo. Além do patrimônio, o Conselho terá mais de R$ 40 bilhões para investir em 2010, um ano eleitoral. Logo, é explicável por que o cargo colocou em disputa o capital contra o próprio capital. Só para se ter uma ideia do poder do Codefat, foi de lá que Delúbio Soares saiu para ser o tesoureiro da campanha do PT em 2002.

E como Nese chegou lá? A articulação que catapultou o simplório empresário ao Codefat começou em dezembro do ano passado, quando o ex-deputado Luiz Antônio Medeiros, Secretário de Relações de Trabalho do Ministério do Trabalho, conferiu a ele uma Carta Sindical para sua confederação. Em três meses, o ministro Carlos Luppi deu assento à CNS no disputado Codefat. A ascensão de Nese quebrou um acordo de administração que vigorava desde 1990, quando foi criado o Codefat. No pacto existente, a cada biênio a administração da entidade era revezada entre trabalhadores, governo e empresários. Neste ano, Nese uniu-se à CUT, Força Sindical e outras entidades dos trabalhadores e derrubou o outro candidato dos empresários. "Ele nos traiu", revolta-se a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente do Conselho Nacional de Agricultura (CNA). Era exatamente o CNA que indicaria o novo presidente do Codefat.

A evidência de que Nese é um empresário "fantoche" pode ser comprovada facilmente. Basta uma busca na internet. Não há nenhum registro sobre sua empresa. Filho de pobres imigrantes italianos que desembarcaram no País em 1949, em busca de trabalho e prosperidade, ele jamais teve um registro em sua carteira de trabalho. "Sempre fui empresário", afirmou à ISTOÉ. A única referência à carreira de Nese, na internet, consta no convite do 2º Encontro Latino-Americano da Construção e Mineração, evento que aconteceu na capital paulista, em junho. Na referência, é atribuída a ele uma formação universitária em engenharia mecânica. O que não é verdade. Ele não se formou engenheiro. "Tive de parar de estudar para trabalhar", diz.

Se na área empresarial sobram dúvidas a respeito da prosperidade de Nese, na construção de entidades sindicais empresariais ele é um fenômeno. "Eu sou fundador do Sindicato das Empresas de Processamento de Dados e Serviços de Informática do Estado de São Paulo (Seprosp), da Federação de Serviços do Estado de São Paulo (Fesesp) e do CNS." Ou seja, se Nese é mesmo empresário, sua principal atividade é fabricar sindicatos.

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