segunda-feira, 15 de março de 2010

INVISTA R$ 500 MIL E TORNE-SE UM POLÍTICO...

Estrela do PT desiste da vida eleitoral


Ausência de uma reforma eleitoral e alto custo das campanhas faz José Eduardo Cardozo desistir da vida eleitoral
Rudolfo Lago
Site Congresso em Foco

O secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo (SP), é um dos pouquíssimos deputados que figurou na lista de melhores parlamentares em todas as edições do Prêmio Congresso em Foco. Hoje (12), José Eduardo anunciou que não mais disputará cargos eleitorais. A razão é o fato de o Congresso não ter feito a reforma eleitoral. Sem mudança nas regras, que tornam a eleição no Brasil caríssima, José Eduardo preferiu desistir: não será mais candidato a deputado. Estima-se que uma eleição para deputado este ano custará em média R$ 500 mil. A maior parte dos últimos escândalos políticos do país - como o próprio mensalão do PT - girou em torno de dinheiro para financiar campanhas eleitorais.

"Desde a última campanha eleitoral, disse e repeti, por diversas vezes, que achava difícil a possibilidade de vir a participar de uma nova eleição à Câmara dos Deputados, se não houvesse uma radical reforma do sistema político brasileiro", diz Cardozo, na carta a seus eleitores na qual comunica a sua decisão. "Fazia isso, no curso de uma campanha, por já não me sentir confortável em disputas onde os recursos financeiros cada vez mais decidem o sucesso de uma campanha, onde apoios eleitorais não são obtidos pelo convencimento político das idéias, pelo programa ou pela própria atuação do candidato proporcional, mas quase sempre pelo quanto de “estrutura” financeira ele pode distribuir", continua ele.

Na última campanha para deputado, um eleitor de José Eduardo Cardozo resolveu ajudá-lo fazendo serviços como cinegrafista sem cobrar. A Justiça Eleitoral considerou que tal doação era incompatível com a renda do cinegrafista e multou Cardozo. Esse fato deixou o deputado contrariado, como ele explica em sua carta, sem citar o caso especificamente: "Já naquele momento começava a me sentir desestimulado em disputar eleições onde os órgãos fiscalizadores partem de interpretações tão rígidas e formais das regras eleitorais que mesmo os mais sérios e cautelosos dos candidatos poderão sofrer pesadas punições, enquanto os adeptos de práticas não republicanas correm praticamente os mesmos riscos quando realizam suas campanhas milionárias, engordando seus patrimônios pessoais e obtendo votos a peso de ouro. Hoje um político sério no Brasil pode vir a ser punido ou mesmo correr o risco de perder o seu mandato, por um mero descuido ou erro formal. Será então exposto à impiedosa execração pública que o tratará como um criminoso de alta periculosidade, com seu nome e fotografia estampado pelos órgãos de comunicação, sem que se busque saber, exatamente qual “delito”, de fato, ele cometeu. (...) Já os corruptos cuidadosos que podem pagar bons e caros técnicos que os assessoram, costumam não cometer erros desta natureza, ao engendrarem suas grandes falcatruas”.

Embora ele não admita, há quem aponte que a decisão tem a ver também com posicionamentos divergentes dentro do PT. O deputado fazia parte do grupo que pregava a necessidade de o partido punir de forma mais rigorosa os envolvidos com o mensalão, e retomasse, a partir daí, seus valores originais. Por conta desse posicionamento, fundou, com o ex-ministro da Justiça Tarso Genro a corrente "Mensagem ao Partido". Vinculado à corrente, Cardozo conseguiu chegar à secretaria-geral do PT, mas as mudanças que a tendência pregava não aconteceram. O que se comenta no PT é que ele poderia ter dificuldades internas no PT de São Paulo na disputa por mais um mandato de deputado.

José Eduardo Cardozo, no entanto, não pretende abandonar completamente a política. Ele continuará como secretário do partido e deverá atuar na campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, à Presidência. E não descarta também um eventual convite para algum cargo no Executivo caso Dilma vença as eleições em outubro.

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